terça-feira, 1 de novembro de 2022


CIÊNCIA GAÚCHA

Estudo define hipótese para explicar efeito "chocolatão"

Cooperação entre Ceclimar, UFRGS e Furg relaciona aparência do mar com vida multiplicada em água doce subterrânea

Uma pesquisa que pretende explicar a influência da descarga de água doce subterrânea na proliferação de microalgas no litoral gaúcho está prestes a confirmar a ligação entre a manutenção ao longo do ano destes organismos e o famoso "mar chocolatão". Ainda que não esteja concluído, o estudo desenvolvido por pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Liminológicos e Marinhos (Ceclimar), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande (Furg), já aponta esta relação.

Segundo a doutora em oceanografia física, química e geológica, Cacinele Mariana da Rocha, a questão envolvendo a água subterrânea no continente que se desenvolve em toda a costa gaúcha vem sendo observada há, pelo menos, uma década como um dos possíveis motivos de floração, ao longo de todo o ano, de microalgas. Os pesquisadores sabiam que as florações ocorriam durante o inverno, por conta da corrente marinha das Malvinas - que costuma trazer muitos nutrientes. Havia também a descarga de nutrientes vinda dos rios Tramandaí e Mampituba. Porém, no restante do ano, permanecia a dúvida de como as microalgas seguiam se proliferando. O grupo, então, passou a monitorar desde Palmares do Sul até Torres.

- O que se apresentou foi um processo intenso de descarga de água doce subterrânea no mar, que varia conforme alguns fatores. Principalmente, a chuva no continente. Mas está sendo possível confirmar que esta descarga está garantindo a chegada de nutrientes na praia - relata Cacinele.

A água subterrânea se forma a partir da infiltração de chuvas, escoamento e de lagoas e rios. Este acúmulo forma os aquíferos, que são enormes depósitos subterrâneos capazes de fornecer água suficiente para suprir os mais variados usos. A água subterrânea pode chegar a aquíferos profundos, de onde leva milhares de anos para retornar ao meio ambiente, ou mesmo ficar em um depósito de maior profundidade por períodos muito longos. No ambiente costeiro gaúcho, pode ser encontrada desde o campo de dunas, passando pelo início da praia, a zona de surfe, chegando até o fundo do mar.

- Este projeto (estudo em desenvolvimento) é novo porque faz o primeiro link dos organismos com o ambiente, possibilitando perceber se há ou não, de fato, uma relação entre a descarga subterrânea de água doce, cheia de nutrientes, com o desenvolvimento destes organismos na faixa costeira do litoral do Rio Grande do Sul. Pelos primeiros resultados, se mostra comprovada esta relação - relata Cacinele.

O projeto começou em 2019, quando a então estudante de biologia marinha Thamara Moreira deu partida à coleta de amostras. A pesquisa ganhou recursos para prosseguir até junho de 2023.

 ALINE CUSTÓDIO

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