segunda-feira, 15 de abril de 2019


15/04/2019
OPINIÃO DA RBS

INGERÊNCIA INDEVIDA NA PETROBRAS

Se o governo tem a intenção de conter as tarifas artificialmente, precisa dizer de onde virão os recursos necessários, sem impor a conta do prejuízo à estatal petrolífera

A semana começa sob o impacto de uma das maiores quedas recentes do valor de mercado da Petrobras, resultante da inoportuna intervenção do presidente Jair Bolsonaro no preço do diesel. Com a intromissão indevida, o presidente da República contraria frontalmente a defesa do livre mercado de seu ministro da Economia, Paulo Guedes. A atitude chega a lembrar as da ex-presidente Dilma Rousseff, que impôs prejuízos consideráveis à estatal brasileira com sua política intervencionista. Além de tumultuar um mercado sensível como o de combustíveis, a mais recente decisão nessa área, tomada na última quintafeira à noite, provocou perdas bilionárias nas ações da empresa e encurtou suas receitas, o que é uma temeridade.

Preço de combustível não pode se prestar para demagogias, pois os danos costumam ser irrecuperáveis, e não só para os acionistas. Normalmente, a conta acaba recaindo mais tarde sobre os consumidores. É compreensível que, com a sua queda de popularidade, em boa parte devido à falta de articulação entre os que assumiram o governo em janeiro, o presidente se esforce por contentar uma categoria influente como a dos caminhoneiros. É óbvio também que o país não pode dar margem a qualquer possibilidade de repetição da greve que, entre maio e junho do ano passado, praticamente paralisou o país, gerando consequências que até hoje não foram contornadas. Nada justifica, porém, que o presidente, eleito sob a alegação de ter revisto seu discurso intervencionista, passe a interferir em decisões que são de mercado.

Preços dos combustíveis são decididos por regras que a Petrobras conhece bem e seguem as oscilações dos mercados internacionais. Neste momento, há razões para alta, que estão além da vontade do Planalto de manter as tarifas congeladas. Se o governo tem a intenção de conter as tarifas artificialmente, precisa dizer de onde virão os recursos necessários, sem impor a conta do prejuízo à estatal petrolífera. A Petrobras precisa, cada vez mais, ficar submetida a regras de mercado, com decisões sendo tomadas por técnicos e especialistas, sob pena de aumentar uma conta que já vem sendo paga com sacrifício pela população brasileira.

O país precisa de uma política de definição de tarifas transparente e lógica, com redução da carga de impostos. A dependência excessiva do petróleo serve novamente de alerta para a necessidade de investimentos em modelos mais baratos e sustentáveis de transporte de bens e de pessoas.

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