segunda-feira, 29 de abril de 2019



29 DE ABRIL DE 2019
DAVID COIMBRA

Grêmio teve uma derrota maravilhosa

O Grêmio teve uma derrota maravilhosa contra o Santos, na manhã deste domingo. Não estou sendo irônico. No futebol, o resultado é o que existe de mais importante, mas não é só o que existe de importante. No caso do 1 a 2 sofrido diante do Santos, na Arena, o Grêmio mostrou qualidades que podem elevá-lo aos píncaros da América do Sul neste ano.

Mas, para chegar ao topo do Aconcágua, o Grêmio precisará mudar um pouco. A começar pelo fim: pelo ataque. Quando Renato mudou o time, no segundo tempo, ficou claro que, com jogadores mais objetivos, o Grêmio se torna quase irresistível. Em 35 minutos, Tardelli deu lógica ao meio de campo e agudeza ao ataque. Nos camarotes, Tite deve ter anotado seu nome no caderninho de nomes da Seleção Brasileira.

Outra boa nova: Luan jogou com desenvoltura, esteve perto de marcar gol e se entendeu com Tardelli como se eles tivessem combinado isso enquanto estavam sentados no banco de reservas.

Para arrematar o conjunto de méritos que o time apresentou, surgiu, enfim, um centroavante na Arena: André fez sua melhor partida desde que chegou ao Rio Grande do Sul. Faltou apenas o gol, mas há dias enfeitiçados em que o gol não sai. Um time ataca, chuta, a bola bate no poste, o goleiro pega, o juiz não marca pênalti ou anula um lance que nunca anularia. Aí o adversário vai lá e faz um e faz dois e tudo se torna turvo, ermo e sombrio. Foi a história do jogo de ontem. Mas não será a história do ano. Pode acreditar.

A entrevista de Lula

Dei-me o trabalho de ler a alentada entrevista que Lula concedeu na cadeia. É óbvio que quem odeia Lula vai criticar o que ele disse e quem ama vai elogiar. Não me enquadro em nenhuma das duas categorias. Consigo ver méritos e deméritos em Lula. Ainda escreverei mais a respeito, Lula é ótimo personagem, mas, por ora, quero me concentrar na entrevista.

Em primeiro lugar, fica cristalino que a cadeia não mudou Lula em nada. Nem para melhor, nem para pior. Ele está exatamente igual. Isso pode ser bom, porque demonstra que o revés não o abateu. Mas pode ser ruim, por demonstrar que o revés não serviu de aprendizado.

Quando os repórteres perguntam se Lula reconhece ter cometido algum erro em sua trajetória, a resposta dele tem o poder de deixar o leitor atônito. Primeiro, quanto ao caso do sítio reformado pelas empreiteiras, ele declara o seguinte:

"Eu cometi o erro de ter ido no sítio. Então, se eu cometi o erro de ir num sítio em que alguém pediu e a Odebrecht reformou, vamos discutir a questão ética. Aí é outra questão".

Explicando: havia um sítio em que Lula sempre ia. Sempre. Este sítio foi reformado, de graça, por três empreiteiras. As obras saíram mais de R$ 1 milhão. E Lula acha que isso não é nada mais do que uma "questão ética".

A segunda autocrítica que ele faz é ainda mais espantosa. A seguinte: "Eu, por exemplo, tive um erro grave. Eu poderia ter feito a regulamentação dos meios de comunicação".

Sério! Lula pensa que o erro dele foi não censurar a imprensa! Lula acerta, na entrevista, na crítica que tece a Bolsonaro. Neste caso, sua análise é percuciente: "Não sei como você é deputado 27 anos e diz que não gosta de política. Como você faz um filho vereador, outro deputado federal, outro senador, e você não gosta de política? Então, ele vai ter que ter muita capacidade de articulação, muita vontade, vai ter que gostar muito de política para poder dar certo. Porque a chance de ele dar certo é o Brasil dar certo. O povo tem paciência, mas não tem toda a paciência do mundo".
Perfeito. Preciso. De política, não há dúvida, Lula entende.
DAVID COIMBRA

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