sábado, 13 de abril de 2019


DEPRESSÃO E SUICÍDIO


Sabe-se que a luz solar ativa a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores relacionados à felicidade e ao bem-estar. Dias escuros, assim como chuvosos, não acionam esse mecanismo. Há até mesmo problemas mentais que surgem em função das estações: o transtorno afetivo sazonal, por exemplo, é um quadro que apresenta sintomas de depressão no inverno e melhoras no verão. No entanto, mais uma vez, o clima não bate o martelo: em um livro clássico sobre suicídio, o sociólogo francês Émile Durkheim, ao analisar as taxas de mortes autoinduzidas em países da Europa do século 19, descobriu que os casos costumam ocorrer no verão, e não no inverno.

Estatisticamente, não é na Europa nem na América do Norte que estão concentrados o maior número de casos de suicídio: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 79% deles ocorrem em países de baixa e média renda - o Brasil está em oitavo lugar. Os mais afetados são populações vulneráveis, como imigrantes, LGBT+, indígenas e presos, o que confirma que, sozinho, o inverno não é responsável pela depressão. A doença mental da modernidade, ao lado da ansiedade, é uma mistura de fatores genéticos, traumas do passado e outras causas.

O sul do Brasil registrou 23% de todos os casos de suicídio de 2017 no país, apesar de concentrar 14% da população brasileira, segundo boletim do Ministério da Saúde. E o Rio Grande do Sul tem as maiores taxas entre os Estados: 10,3 mortes por suicídio a cada 100 mil habitantes, quase duas vezes maior do que a taxa nacional, de 5,5. A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul (SES) trata o tema como problema de saúde pública. A zona de maior risco é o Vale do Rio Pardo, região de plantio de fumo. Há estudos apontando que agricultores responsáveis por essa atividade têm maiores taxas de suicídio - os riscos seriam desde o uso do agrotóxico, aplicado de forma manual, até uma autoestima mais baixa, afetada pelos maus olhos que grande parte da sociedade destina a quem trabalha na cadeia do cigarro.

- São vários os fatores que influenciam o ser humano. Países escandinavos, com clima predominantemente frio e noites prolongadas, têm grandes taxas de depressão e de suicídio. O Rio Grande do Sul, onde o inverno é acentuado em comparação ao resto do Brasil, tem as maiores taxas de suicídio do Brasil - ressalta Cláudio Meneghello Martins, diretor da Sociedade Brasileira de Psiquiatria (SBP). - O frio proporciona um isolamento social maior, mas entram também a predisposição genética e o estresse ambiental, como violência urbana, pobreza ou maus-tratos emocionais - salienta o psiquiatra.

Ainda que o escuro seja naturalmente associado ao perigo e ao que não é visível, o psiquiatra Luiz Carlos Mabilde, da Sociedade de Psicanálise de Porto Alegre (SPPA), destaca que nenhum clima é essencialmente melancólico ou inspirador: o indivíduo é responsável por conceber significados a eventos. Se para um morador da cidade a chuva pode suscitar tristeza, para um fazendeiro pode ser sinal de alegria e de prosperidade na plantação.

- O dia ensolarado é um dia como qualquer outro. E o dia cinzento também. Projetamos no sol e no cinza questões que já existem dentro de nós. Se estamos bem, não é o dia acinzentado que vai nos deprimir, nem o sol irá nos deixar eufóricos - reflete Mabilde.

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