segunda-feira, 29 de abril de 2019



29 DE ABRIL DE 2019
+ ECONOMIA

Como afugentar o cliente do futuro

Um dos principais temas debatidos na mais recente edição do Ciab Febraban, congresso de tecnologia do setor financeiro, foi como os bancos tradicionais deveriam se adaptar para cativar os clientes jovens. Na busca por respostas, a consultoria espanhola Everis apresentou no evento um estudo de comportamento sobre os millennials brasileiros. Embora exista discordância sobre a faixa etária desse recorte da população, seria um grupo que hoje no país é superior a 50 milhões de pessoas. A grande preocupação está na constatação de que um terço desse contingente revelou a pretensão de abandonar os bancos em um período de cinco anos. Metade acredita que os serviços financeiros que precisam serão supridos por fintechs ou novas soluções que chegarão no mercado.

Como são estes jovens? Multiculturais, ansiosos, filhos da globalização e defensores da diversidade, explicou o diretor da Everis, José Ignácio Núñes. E qual o significado de uma compra? Vai além de uma mera aquisição de algo. Deve conter valores éticos que querem passar para o seu círculo, não apenas em redes sociais. Para eles, mostra a pesquisa, as marcas devem trazer consigo discursos com posicionamento claro sobre assuntos como sustentabilidade, racismo e homofobia.

A forma como os bancos devem se portar para conquistar esses novos clientes, de acordo com a pesquisa apresentada no evento da própria Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), colide frontalmente com a iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de vetar uma simples propaganda do Banco do Brasil (BB) que tentava exatamente atrair esse público, usando personagens que expressam a própria diversidade cultural, sexual e de comportamento dos brasileiros.

Além de preconceituosa, a atitude é uma ingerência que fere a Lei das Estatais por interferir na política comercial do banco. Se a intenção era de espantar o cliente do futuro, foi uma boa estratégia. É como se uma fatia importante do mercado fosse dispensada. Por birra. Se os millennials são multiculturais e defensores da diversidade, talvez o BB, ao menos no governo Bolsonaro, não seja a melhor alternativa. A concorrência agradece.

Doce expansão

Criada em 1978 e tradicional em Gramado, a loja de lanches Casa da Velha Bruxa, operada pela Prawer Chocolates, passa a ser franchising. A primeira franquia abriu na Estação Campos de Canella, na cidade vizinha. Ainda em 2019, a marca deve inaugurar pontos em Porto Alegre, Balneário Camboriú (SC) e Curitiba. O investimento médio para quem deseja ser franqueado da marca varia de R$ 600 mil a R$ 700 mil.

Uma notícia boa e outra ruim

A atividade econômica no Estado, medida pelo IBC-Br, recuou 0,8% no trimestre encerrado em fevereiro, mostrou o Banco Central semana passada, na divulgação do Boletim Regional. A comparação é com o intervalo imediatamente anterior de três meses, de setembro a novembro, período que registrou alta (1,5%). A principal causa foi o desempenho negativo da indústria. No intervalo de 12 meses, porém, a economia gaúcha mostrou aceleração e teve alta de 2,6% até fevereiro.

Com cerca de R$ 5 bilhões sob custódia, a Messem Investimentos, escritório vinculado à XP, inaugurou novo espaço em Caxias do Sul, onde nasceu. Com a ampliação, passa a ter capacidade para abrigar 60 profissionais, local para eventos com até cem pessoas e consegue oferecer maior conforto aos clientes. A intenção é chegar à marca de R$ 20 bilhões nos próximos dois anos. A Messem também tem unidades em Porto Alegre e São Paulo.

RESPOSTAS CAPITAIS

"ARGENTINA É FILME QUE SE VÊ DE NOVO"

Marcos Azambuja
Diplomata e conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais

Ex-embaixador na Argentina, o diplomata Marcos Azambuja analisa a situação política e econômica do país vizinho e se mostra decepcionado com o governo de Mauricio Macri, que se elegeu com discurso liberal e, há poucos dias, recorreu até a congelamento de preços. Ex-secretário-geral do Itamaraty, também avalia a nova política externa brasileira sob o governo de Jair Bolsonaro.

O governo Macri, que seria de viés liberal, é uma decepção?

É. Prometeu mais do que poderia entregar. Criou expectativas e não cumpriu. A oposição a ele é grande e tem muita influência da ex-presidente Cristina Kirchner e de outros líderes peronistas. A inflação está em níveis intoleráveis. A desvalorização do peso é inaceitável. A intervenção do FMI reacende os sentimentos do passado em que o fundo determinava, com insensibilidade, as políticas que o país deveria seguir. Falta pouco tempo para as eleições. Cristina pode se apresentar. Macri está esvaziado do que tinha de mais importante, a esperança de que, com ele, a Argentina voltasse a crescer.

Onde ele errou?

A Argentina continua a ter grande dificuldade de ser governada por qualquer grupo político que não seja associado ao peronismo. Em suas várias vertentes, o peronismo ainda é o caminho que leva à governabilidade. Não ao sucesso, não ao crescimento. Ele subestimou os problemas que iria encontrar. A economia está fragilizada e ele não conseguiu criar uma corrente liberal com capacidade de convencer os argentinos de que era o melhor caminho. Vive mais uma vez a mesma situação. FMI, inflação alta, baixo crescimento, desconfiança da sociedade com a política econômica e desgaste da presidência. A Argentina é um filme que se vê de novo.

Vê possibilidade de Cristina Kirchner voltar ao poder?

O que mais sustenta o Macri é o medo da volta da Cristina. Parece um paradoxo. Há temor de que volte o populismo, a corrupção, o nacionalismo exaltado do ciclo do kirchnerismo na segunda fase. Ela tem chances reais. Se continuar assim, vai crescendo. De novo a Argentina na mão do FMI, aquele ressentimento contra as forças de fora, a população sindicalizada achando que é tratada com insensibilidade, aumento da pobreza e do desemprego.

O quanto é ruim para o Brasil?

O Brasil tem na Argentina um mercado importante, sobretudo para o que produzimos de industrializados. É o nosso melhor mercado. Não há cenário de infelicidade deles que não seja a diminuição de nossas exportações.

Como o senhor vê a nova política externa brasileira?

Prometi a mim mesmo dar um tempo. É razoável esperar que o governo da hora experimente, tente, acerte, erre. Mas estou preocupado. A política externa brasileira sempre teve duas características que admiro: previsibilidade e racionalidade. Não quer dizer que sempre esteja certa. Mas era algo que se podia ver como se desdobraria. Defesa da nossa integridade territorial, boa relação com vizinhos, aproximação com países de todas as naturezas, com EUA, China, Rússia. O Brasil tinha uma política que era razoável. Com pecados de um pouco de excesso de protagonismo e indulgência excessiva com governos como de Chávez e Maduro. Mas tenho medo de uma aproximação excessiva com Israel e EUA. Agora, há a visita do presidente à Polônia e à Hungria. Não são destinos naturais da diplomacia brasileira. Na democracia, há alternância no poder. Um governo como o da Dilma Rousseff, de centro esquerda, pode ser sucedido por um de centro direita. Não quero é que pendulo vá tão dramaticamente para um lado que pareça os mesmos erros, com o sinal trocado.

Considera que o Itamaraty está ideologizado demais?

Perdeu a tradição de comportamento racional e previsível. Estamos erráticos.

E a figura pessoal do chanceler Ernesto Araújo?

Ele tem um problema que não sei como superar. Se move por impulsos ideológicos, por inspiração de autores, forças, religiões ou filosofias que não são as que costumam nos conduzir. A nossa política externa era conduzida mais pelo bom senso. Menos ideologia e mais comportamento racional e previsível. Cada vez mais acredito em moderação e racionalidade. Mas as minhas convicções não estão na moda. Claro que temos de nos aproximar dos EUA e de Israel. É bom para eles e para nós. Mas não tanto.

CAIO CIGANA

Nenhum comentário: