sábado, 13 de abril de 2019


13 DE ABRIL DE 2019
MARTHA MEDEIROS

Autorretrato


Xuxa, uma das artistas mais celebradas do país, já levou muito esculacho. Houve quem a acusasse de ser grosseira com as crianças e quem espalhasse boatos de que ela teria um caso com sua ex-empresária - se tivesse, e daí? Vinha chumbo de tudo que era lado. Eu mesma impliquei quando o nascimento de sua filha mereceu matéria de infinitos minutos no Jornal Nacional, achei que aquela exploração midiática não combinava com um fato tão íntimo e comentei a respeito, condenando.

O que eu tenho a ver com o que a Xuxa faz da sua vida? Pois é: nada. Uns oito anos atrás, estive em seu programa, a convite da produção, pois haveria uma homenagem a Cissa Guimarães e, devido à amizade que tenho com Cissa por causa da peça Doidas e Santas, eu seria uma espécie de convidada surpresa da gravação. 

Durante todo o programa, Xuxa foi educada comigo, mas me pareceu que ela não ia muito com minhas fuças, e teria razão pra isso. Ainda que eu tenha total liberdade de dar opinião em minhas colunas, quem é que gosta quando pisam em seu calo? Pode também ter sido apenas impressão minha e Xuxa jamais ter lido nada que eu tenha escrito, e nesse caso minha neura foi apenas um sintoma da minha culpa.

Todo esse preâmbulo é para voltar a falar dela. Poucos meses atrás, Xuxa postou nas redes uma selfie sem maquiagem, onde aparece com uma expressão envelhecida. Foi o que bastou para receber comentários maldosos, principalmente de mulheres que não se conformaram com sua ausência de vaidade. Mas quem decide onde devemos colocar nossa vaidade? Algumas mulheres a colocam no pescoço, outras na conta bancária, outras no cérebro, outras nos filhos, outras no trabalho, outras no conjunto da obra: cada uma se envaidece do que quiser.

Xuxa, agora com o cabelo raspado (e mais linda do que nunca), deu entrevista recente dizendo que as pessoas ainda desejam vê-la de chuquinha, como se o tempo não tivesse passado. Só que passou. E essa talvez seja a explicação para o bombardeio de críticas: ao assumir a passagem do tempo, Xuxa nos obriga a aceitar que passou para nós também. Sem querer, ela acaba "traindo" toda mulher que gasta fortunas em procedimentos estéticos a fim de parecer mais jovem. Ao abrir mão de ser um padrão juvenil de beleza, Xuxa dá uma situada no mulherio: a era do "ilarilarilariê" acabou. A vaidade agora está em ser madura e livre.

Continuo não tendo nada a ver com a vida da Xuxa, mas não quis perder esta oportunidade de, enfim, fazer-lhe justiça. Envelhecer não é fácil pra ninguém, e imagino que menos ainda pra quem sempre foi uma deusa, por isso é tão importante alguém como ela vir a público dizer que investir em autenticidade e na vida emocional traz resultados mais efetivos do que tentar agradar à plateia. Se ela continuar desagradando, azar da plateia. Amadurecer tem um custo, porém o retorno é sempre mais valioso.

MARTHA MEDEIROS

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