quarta-feira, 24 de abril de 2019


24 DE ABRIL DE 2019
POLÍTICA

Militares pressionam e surgem as críticas a Olavo de Carvalho


Pela primeira vez desde que foi empossado presidente da República, Jair Bolsonaro se distanciou publicamente do ideólogo Olavo de Carvalho, um dos inspiradores da sua trajetória rumo ao poder. Segunda-feira, o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, leu uma nota em nome do presidente, que afirmava que "recentes declarações (de Olavo) contra integrantes dos poderes da República não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento dos objetivos propostos em nosso projeto de governo". É uma mudança e tanto.

ZH soube que pesou na descompostura pública do presidente ao seu guru o descontentamento de alguns generais-ministros com as críticas do pensador ao meio militar, que comanda oito dos 22 ministérios do governo. Olavo, idealizado por Bolsonaro e seus três filhos políticos por ser um pensador de direita num país historicamente marcado por filósofos de esquerda, têm mirado recentemente outros direitistas. 

Já chamou o vice-presidente, Hamilton Mourão, de "idiota", "charlatão desprezível" e "oportunista" e falou diversas vezes que o general aspira tirar o poder de Bolsonaro. O ideólogo, que foi astrólogo e também é chamado de filósofo por seus adeptos, disse ainda que os militares só fizeram "cagada" nas últimas décadas e entregaram o Brasil ao "comunismo" ao anular as lideranças civis de direita após o golpe de 1964.

As baterias de Olavo se voltam, sobretudo, contra o vice-presidente. Mas a raiz das divergências, afora intrigas palacianas e disputa por poder, é ideológica. Olavo é muito mais conservador e direitista, no espectro político, do que a maioria dos ministros. Militares, como Mourão e o general Carlos Alberto Santos Cruz (ministro da Secretaria de Governo), ocupam mais de cem cargos de primeiro e segundo escalão no governo, e têm se mostrado mais pragmáticos em governabilidade e liberais em ideologia. 

São avessos a aventuras militares na Venezuela, acham prejudicial ao Brasil apoiar algum dos lados na disputa entre árabes e judeus, são favoráveis a manter a parceria comercial com a China. O vice, inclusive, já disse que aborto é questão de foro íntimo da mulher. Mourão adotou estilo mais político.

O presidente esta semana tentou dar fim ao bate-boca ao criticar Olavo. Mas Carlos Bolsonaro saiu em defesa do escritor. É hábito recorrente na família: quando o presidente segue o protocolo conciliador, um dos filhos usa da franqueza e se alinha com alguma tese. Sem ser repreendido pelo pai. É pouco provável que o presidente rompa com seu guru. Protocolo nem sempre é sinceridade.

HUMBERTO TREZZI

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