segunda-feira, 29 de outubro de 2018


29 DE OUTUBRO DE 2018
ELEIÇÕES 2018

Por que o Rio Grande do Sul nunca reelege governador


Foi durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990, que o Brasil passou a conviver com a possibilidade de reeleição. Desde então, o país oferece a chance de recondução para presidente, governadores e prefeitos - no Estado de São Paulo, por exemplo, Geraldo Alckmin já cumpriu quatro mandatos. Mas uma unidade federativa foge à regra: em duas décadas, o Rio Grande do Sul jamais reelegeu um governador.

A derrota de José Ivo Sartori (MDB) já foi experimentada por antecessores de partidos, visões e posições diversas no espectro político (veja quadro abaixo). Há quem considere a realidade gaúcha especialmente complicada, o que tornaria a tarefa mais difícil para quem é situação, e quem avalie que essa realidade tenha a ver com particularidades dos gaúchos. Para Gustavo Grohmann, cientista político e professor de Ciência Política da UFRGS, o fato de três dos seis governadores do período serem emedebistas pode ser uma pista para entender o fenômeno:

- O gaúcho é, antes de mais nada, do contra. É um traço da cultura política local que tem influência, mas de uma maneira interessante, porque isso normalmente não se reflete em votos para a oposição, mas em uma terceira via. Enquanto Antônio Britto (PPS) e Olívio Dutra (PT) brigavam, em 2002, Germano Rigotto (MDB) se elegeu, e o mesmo aconteceu com José Ivo Sartori, que apareceu com 3% das intenções de voto e cresceu diante do embate entre Tarso Genro (PT) e Ana Amélia Lemos (PP), em 2014. Quando surge uma polarização forte, o gaúcho parece preferir um terceiro caminho, mais suave.

Para analistas, a grave crise do Estado foi um dos principais complicadores para a tentativa de reeleição de Sartori.

- Penso que há uma combinação perversa de déficit fiscal crônico, baixa capacidade de investimento e uma burocracia disfuncional que fragiliza os governos diante da sociedade - diz o cientista político Fernando Schüler.

É quase folclórica a ideia de que o gaúcho precisa ter lado desde cedo. O cientista político Benedito Tadeu César entende que, mais do que o embate entre direita e esquerda ou entre progressistas e conservadores, o Estado cresceu politicamente com o confronto entre o trabalhismo, representado por Getúlio Vargas e Leonel Brizola, e o antitrabalhismo:

- Historicamente, temos esse confronto. Analisando grosseiramente, podemos dizer que temos um terço de trabalhistas convictos, um terço de antitrabalhistas convictos e um terço que se posiciona ao centro. Neste caso, quem decide a eleição é o centro político, que às vezes pende mais para o trabalhismo ou mais para o antitrabalhismo, e acaba funcionando como um fiel da balança. Quem angaria esses votos, ganha.

Quem chegou mais perto da reeleição no RS foi também o primeiro a tentá-la: em 1998, Britto conseguiu 49,2% dos votos - quatro anos antes, quando também havia disputado com Olívio, alcançou 52%. Quem ficou mais distante do segundo mandato foi Yeda Crusius, do PSDB, que teve apenas 18% dos votos em 2010, terceira colocada no pleito que elegeu Tarso ainda no primeiro turno. Para Benedito César, a explicação para os dois casos é parecida:

- Yeda tinha uma personalidade muito difícil e se indispôs com todo mundo, principalmente com os prefeitos. Sem o apoio dos prefeitos, é muito difícil se eleger. Muito da não reeleição do Britto é por ter perdido o apoio de suas bases, e a Yeda repete isso 10 anos depois. E, no caso da Yeda, soma-se o momento do PT, de sucesso do governo Lula, que emplacaria a Dilma nacionalmente e o Tarso no Rio Grande do Sul.

GUSTAVO FOSTER

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