segunda-feira, 22 de outubro de 2018


22 DE OUTUBRO DE 2018
+ ECONOMIA

A DESCRENÇA QUE MOLDOU O BRASIL


O Brasil que sai das urnas em outubro começou a ser gestado em 2013, indica um estudo divulgado pela FGV Social na semana passada. O trabalho, apoiado nos dados de outra pesquisa do Gallup World Poll, mostra que, a partir daquele ano, quando as manifestações de rua ganharam o país, não parou de crescer a desconfiança e a insatisfação dos brasileiros em relação ao seu bem-estar, instituições e lideranças políticas. A edição mais recente, com informações de 2017, mostram o auge do pessimismo.

Mesmo que nos anos anteriores o Brasil tenha avançado em questões sociais e renda, o país falhou ao não progredir em fatores que são essenciais para a manutenção de uma economia mais forte e duradoura: produtividade do trabalho e equilíbrio fiscal. Um descompasso fatal, turbinado por escândalos de corrupção.

A taxa de desaprovação da liderança política brasileira, leia-se o presidente da República, chegou ao cume ano passado no Brasil: 86%. Não é só a maior rejeição entre os 124 países pesquisados, mas o recorde de toda a série histórica da sondagem, para qualquer nação. Apenas 14% do brasileiros disseram acreditar na honestidade das eleições, dado que é reforçado pela histeria de agora sobre fraudes em urnas eletrônicas. Só no devastado Afeganistão a descrença é maior.

O percentual de brasileiros que disse não confiar no governo federal chegou a 82%. Apenas na Bósnia e Herzegovina o número foi mais alto. O medo de andar à noite na sua vizinhança também atinge 68% da população, o pico da pesquisa. Novamente, sensação de insegurança maior somente no Afeganistão. O curioso, nota a pesquisa, é que, quando a pergunta foi sobre a ocorrência de roubo a familiar nos 12 meses anteriores, o Brasil fica na 49ª posição. Assim, há também um componente psicológico no medo da violência no Brasil, conclui a FGV Social.

Ou seja, desde 2013 a percepção de qualidade de nossa democracia se deteriora. A insatisfação apareceu nas urnas e, parece, está levando o país a deixar a civilidade em segundo plano.

CAIO CIGANA

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