sábado, 20 de outubro de 2018


20 DE OUTUBRO DE 2018
MÁRIO CORSO

O sétimo sentido


Falamos em sexto sentido para intuições que nos acometem, para percepções cujas fontes são misteriosas. Mas já temos seis sentidos. O sexto sentido é o equilíbrio. Ele é tão discreto, que, como em tantas coisas da vida, só notamos sua existência quando falta.

Quando tiveres uma crise de labirintite, vais entender e pedirás perdão, ajoelhado, pela ingratidão de não levá-lo em conta. Portanto, o correto seria falarmos em sétimo sentido quando entramos na gramática de captar mensagens esotéricas, ler nas entrelinhas do mundo os sinais epifânicos.

Eu, não é hora de ser modesto, tenho um extraordinário sétimo sentido. Recebo revelações, aprendi a interpretar os signos que o universo me manda. Basta estar apreensivo com algo, que, automaticamente, começo a ler nas firulas do banal e sentir o que vem pela frente. Qualquer pequena vibração já me demonstra para onde apontam as tendências. Meu sétimo sentido é especializado em futuro.

Não leio borra de café, voo dos pássaros, entranhas de vítimas sacrificadas, para ficar nas mais antigas e comuns artes divinatórias da humanidade. Tampouco uso tarô, runas, I-Ching, búzios, mapas astrais. Deixo esses apetrechos para quem tem poderes mediúnicos menores.

Minha clarividência usa fontes ampliadas, eu posso ler qualquer coisa. Basta ficar atento ao fluxo do mundo e a mensagem me vem pelos números de placas de carro, pelas pessoas que encontro na rua, pela música que o rádio toca. Enfim, qualquer acontecimento fortuito possui a senha do futuro para quem, como eu, conhece a chave interpretativa do cosmos. É intuitivo, e a revelação chega como um presente dos deuses.

O que me desalenta, e isso é bem chato, é que sempre erro. E, quanto mais seguro estou de algo, mais distante do acontecido. Meu sétimo sentido é descalibrado. Três hipóteses: o universo brinca comigo, mandando sinais ilusórios para me confundir. Ou capto a verdade de um universo paralelo, aliás, melhor do que o nosso. Ou então, o sétimo sentido é expressão da minha mania alucinada, demente e incurável, de tentar antecipar o futuro.

Inclino-me a pensar que a minha paranormalidade, e suponho que a dos outros, é uma sopa feita de medos, apreensões e desejos, turbinados pela ansiedade de saber para onde vamos. A premência em antecipar os fatos afrouxa a razão e a superstição escancara a porta e faz a cama.

Apesar de saber disso, meus poderes não me largam. Basta ter um Gre-Nal pela frente e eu não só sei o resultado como quem fará os gols e em que momento. Sei quem vai pegar o pênalti e o canto em que será batido. Se fizesse previsões genéricas, perigava acertar, mas meus poderes fajutos descem às minúcias.

Tenho um remédio que desliga um pouco meu engenho de futurólogo. Mas bem capaz que vou tomar antes de terminar as eleições e o Brasileirão, não é mesmo?

MÁRIO CORSO

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