quarta-feira, 24 de outubro de 2018


24 DE OUTUBRO DE 2018
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Democracia, corrupção e silêncio


A democracia é o mais perfeito sistema político inventado pela humanidade. Poder-se-ia dizer que ele é um sistema natural, na medida em que a civilização vive em grupos e a convivência equilibrada entre as pessoas demanda uma forma política em que todos tenham direitos iguais.

Por vezes se diz que a democracia tem imperfeições, com o que discordo, pois, as chamadas imperfeições, na realidade, advêm de seu mau uso. A introdução do processo democrático trouxe também uma incessante busca pelo poder e esta busca sempre a colocou em risco. As eleições são sua expressão máxima e onde distorções e ameaças podem ocorrer.

Os arranhões no processo político nacional recente se deram em duas instâncias e momentos, com o que ocorria antes das eleições e o que se verificava posteriormente no Congresso e no Executivo, todos interligados. As coalizões partidárias utilizaram-se de diversas estatais, bem como da administração direta para, através da corrupção, enriquecer pessoas e partidos.

Parte do produto da corrupção foi utilizado como caixa dois para o financiamento de campanhas e a manutenção do poder, pervertendo o processo eleitoral. Estabelece-se, desta forma, um processo que se retroalimenta, representado pela corrupção, financiando a preservação do poder e perpetuando o ciclo. O Petrolão é exemplo perfeito disto.

Uma segunda fraude que se estabelece a partir da corrupção foram as questões legislativas conduzidas através da formação de bancadas com compras de votos, exemplo tupiniquim representado pelo Mensalão, mas não apenas.

Vítima dessa sequência de arranhões em nossa democracia, ficou evidente, em especial a partir dos movimentos de rua que surgiram em 2013, espontâneos, um cansaço da sociedade com nossa política e a forma como a democracia vinha sendo tratada.

As eleições de 2018 trazem mais do que um movimento antipetista, evidente, mas um posicionamento de amplitude ainda maior, que é uma repulsa a tudo o que se estabeleceu. Daí a facilidade de fluírem novas propostas e proponentes e a renovação política que se estabeleceu.

Maus resultados ou a inconformidade com o que temos hoje no quadro nacional não invalidam o processo democrático. Muito pelo contrário, nos obrigam, ainda mais, a nos posicionarmos, mesmo correndo o risco de errarmos.

Em um magnífico artigo publicado em Zero Hora pelo Dr. J. J. Camargo, havia uma ponderação: para onde vão nossos silêncios quando nos calamos? Acho que diz tudo.

Ricardo Hingel escreve às quartas-feiras, a cada 15 dias. 

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