quinta-feira, 25 de outubro de 2018


25 DE OUTUBRO DE 2018
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Inovação: para onde caminhamos?


Shudu Gram é uma das novas sensações da indústria da moda. A supermodelo, que tem mais de 147 mil seguidores no Instagram, é negra, usa o cabelo curtíssimo e seu estilo parece respeitar sua origem étnica. Também é linda, tem medidas perfeitas e não existe. Sim, Shudu é uma mulher virtual criada com efeito 3D por um fotógrafo britânico. 

O que poderia ser uma bem-vinda iniciativa de inclusão em um setor que tem padrões bastante rigorosos, causou furor por revelar um aspecto perverso da indústria da moda: a busca da perfeição física que leva, entre outras coisas, a ser uma das mais restritas áreas de atuação profissional. Cameron-James Wilson, o criador, alega que sua intenção foi, usando as possibilidades tecnológicas, chamar a atenção da beleza negra. No entanto, em um momento em que o tema inclusão está em pauta, muitos o acusam de promover a substituição das pessoas por avatares.

Recentemente, o Facebook adotou inteligência artificial para informar ao usuário cego detalhes do que está em cada imagem de sua timeline. Está pensando no seu negócio, claro, mas está também aumentando a acessibilidade em um mundo cada vez menos amigável para quem não enxerga.

Encontrar a exata medida da tecnologia, o limite entre o interesse individual e o coletivo, entre ajudar e preterir pessoas, não é simples. Talvez ajude se pensarmos que inovação não pode ser vista como um fim em si mesma, mas ferramenta para um mundo melhor. Dessa forma, só faz sentido se estiver, em última instância, a serviço da humanidade, atendendo as suas necessidades e buscando a solução dos seus problemas. E esse é um teste que sempre deveria ser feito. 

Ocorre que a inovação é conduzida por pessoas, e é o que somos e pensamos que ela descortina. Por isso se faz necessário que as reflexões no campo do "quem somos, de onde viemos e para onde vamos" aconteçam em paralelo ao desenvolvimento científico e tecnológico. O conhecimento impulsiona, expande e faz crescer, mas um fato é claro: não há milagre capaz de ser operado pela tecnologia; para o bem e para o mal, a nossa essência humana sempre se revela.

GABRIELA FERREIRA - Gabriela Ferreira escreve às quintas-feiras, a cada 15 dias.



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