quinta-feira, 18 de outubro de 2018


18 DE OUTUBRO DE 2018
OPINIÃO DA RBS

NEM NAZISTAS, NEM BANDIDOS

Respeitar a vontade alheia e, quando muito, procurar convencer por argumentos deveria ser um primado da democracia, mas não é o que se vê nas redes e nas ruas

Nas redes sociais, que se transformaram na arena de vale-tudo da campanha eleitoral, partidários de Fernando Haddad (PT) chamam eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) de nazistas ou fascistas. Em revide, são rotulados de bandidos e comparados a criminosos. A degradação do debate político no Brasil, que abre feridas entre famílias e amigos, chegou a um ponto de insensatez que só uma inédita combinação de dois presidenciáveis representando polos opostos com o escudo das redes sociais foi capaz de produzir. O desafio não apenas dos candidatos e da Justiça Eleitoral, mas de todos os que têm compromisso com a democracia, é insistir em que eleitores se interessem mais pela busca da verdade e menos por informações nas quais querem acreditar por conveniên-cia político-partidária, mesmo sabendo, na maioria das vezes, que são falsas.

No caso de aplicativos usados para conversas interpessoais e de redes sociais, a grande dificuldade é discernir o limite entre a liberdade de expressão e o ponto a partir do qual o jogo se desequilibra, colocando em risco não apenas a eleição, mas a própria democracia. Essa é uma questão que precisa ser enfrentada com mais transparência e maior acesso a informação de qualidade, que ajude os eleitores a se distanciar de notícias falsas e a rejeitar simplificações.

Além dos sulcos emocionais escavados por ofensas mútuas, o problema dos rótulos é que eles ignoram as verdadeiras razões pelas quais eleitores votam em um ou outro candidato. Não são nazistas nem bandidos, obviamente. Respeitar a vontade alheia e, quando muito, procurar convencer por argumentos deveria ser um primado da democracia, mas não é o que se vê nas redes sociais e nas ruas.

A virulência verbal contra adversários também subtrai um princípio fundamental da liberdade de expressão. A verdadeira liberdade não é apenas impedir o cerceamento das palavras de quem as profere - é, antes de mais nada, assegurar que manifestações contrárias tenham livre trânsito.

Desacostumada aos conceitos mais profundos da democracia, boa parte do país tende a querer impor na marra sua visão de mundo. Em represália, o resultado é somente mais radicalização e violência. Não será pela agressão que alguém se convencerá de alguma coisa na campanha presidencial. Quem quiser trazer o outro para seu lado pode começar a respeitar suas opções atuais e procurar entender suas motivações. O resto será apenas gritaria inútil.

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