O eterno retorno
Faz tempo, deixei de sentir qualquer tipo de paixão quando o assunto é política. Paixão é fundamental na vida. Um combustível poderoso para ideias e relacionamentos, mas não para escolher os gestores de um país. Aí, é o cérebro que deveria funcionar. Consolidei essa convicção ao longo dos anos. Não é uma verdade absoluta e nem proselitismo raso. É o meu jeito. Cada um tem o seu.
Assisti a boa parte das cerimônias de posse do novo governo federal em uma poltrona. Revi rostos de 20 anos atrás, ouvi os discursos sobre o futuro, as promessas e as críticas à herança maldita. Vi a estética pensada para marcar a diferença com o que veio antes. "Responderemos ao ódio com amor". Quando Lula disse isso, arregalei os olhos. Foi das poucas reações durante as horas de vigília em frente à TV. Eita frase bonita. Na mesma hora, as emissoras e os veículos de comunicação a pinçaram e a estamparam nas suas capas e telas, em letras garrafais. É bonita, mas não é verdadeira. Não foi na campanha e não será agora.
Sou cético com os políticos e com a política. Justamente porque os considero fundamentais. É o meu jeito de ajudar. Eu já era jornalista nos tempos dos governos petistas e lembro das campanhas de difamação e de ataque moral contra os "inimigos". Lembro da forma como o PT tratou os presidentes Fernando Henrique Cardoso, Sarney (agora amigo), Temer e todos os que não faziam parte da turma. Uma oposição raivosa e pouco construtiva.
Como regra, a crítica e a divergência não são respondidas com "amor" pelos poderosos, imagine o ódio. Insisto nessa tecla: não é o PT ou o Bolsonaro. É a dinâmica atual da política. O poder é o objetivo e não o meio, como deveria ser. Há bons políticos no Brasil, mas é muito difícil dançar valsa em uma festa onde a banda só toca heavy metal. Em volume ensurdecedor. Ou você é tirado para louco, ou dança sozinho.
Também impressiona a falta de critério para analisar a linha histórica do tempo. Lula fala como se o que veio depois dos anos de PT tivesse aterrissado no Brasil em uma nave de outra galáxia. Lula foi o maior cabo eleitoral de Bolsonaro. E vice-versa. É importante compreender essa verdade para que possamos lidar com ela da melhor forma possível. Tomara que Lula e o PT tenham aprendido. Tomara que, internamente, tenham feito a autocrítica que não ouvimos até agora. Quem deixou o poder dia 1º de janeiro torce para que não. Quatro anos passam voando.
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