sexta-feira, 24 de maio de 2019



Mudanças e recomeços 


O lado obscuro (Faro Editorial, 288 páginas, R$ 44,90, tradução de Fábio Alberti), romance, é a nova obra da consagrada escritora norte-americana Tarryn Fisher, autora best-seller do The New York Times e da conhecida trilogia Amor e mentiras; F*ck love e Stalker, lançados no Brasil pela Faro Editorial, além de coautora da série Never, Never, com Colleen Hoover. Tarryn é uma das autoras contemporâneas mais aclamada por leitores de todo o mundo e apresenta nesta narrativa uma história fortíssima sobre uma mulher que se vê à beira do abismo.

Senna, escritora mundialmente famosa, sempre teve uma vida perfeita, uma casa linda, uma vida confortável. Algo, porém, faltava. Um dia ela acorda numa casa estranha, em meio a uma tempestade de neve, na manhã de seu aniversário, com roupas que não eram suas, trancada por um maníaco que espalhou diversas referências de seus livros e sua vida pessoal nos cômodos da cabana.

 Ela logo viu que não estava sozinha e que havia muita coisa por trás daquele cruel sequestro, um verdadeiro enredo de terror. Ela vai precisar decifrar as pistas ligadas a seu passado para conseguir fugir. Senna sempre foi reclusa, de poucos amigos e escassa vida social. Seu foco era o trabalho e seus exercícios. Num momento complicado de sua vida, quando havia desistido de tudo, justamente apareceu o psicopata que a captura e a leva para um lugar afastado, onde muitas surpresas acontecerão. O cirurgião Isaac tinha encontrado Senna num momento em que ela estava fragilizada.

Ele a ajudou muito. Ficaram afastados durante muitos anos, e acabaram juntos na cabana. Correram o risco de serem consumidos por recordações que esperam esquecer. Escassez de comida e água, perigos cercando a cabana, jogos perigosos do raptor e o despertar de um sentimento antigo ameaçam romper as defesas de Senna, o que pode ser fatal. Senna sempre foi capaz de destruir antes de ser destruída. Na narrativa os leitores vão saber qual a diferença entre o amor de sua vida e a sua alma gêmea. Um se escolhe, o outro não. Como se vê, um thriller com muito mistério e suspense. 

Brasil, mostra as tuas caras A tela em branco, o importante espaço público a ser preenchido até a improrrogável hora de baixar a matéria. De preferência com alguma competência, clareza, objetividade e com a devida sensibilidade social jornalística para atender às necessidades e gostos dos meus nove soberanos leitores-jornalistas, que generosamente me pautam. Pensei em falar das maravilhas da Praça Província de Shiga, sobre ficar sossegado e isentão em cima da Muralha da China ou comentar sobre o novo bar da Padre Chagas. Não tem mais crônicas sobre a falta de assunto, nas quais reinava Rubem Braga.

Não fujo dos assuntos federais. Sou do grupo de Whatsapp Amigos do Bananão e não fui excluído. Hoje somos todos peixes atarantados e embolados, caídos nas redes sociais. Somos milhões de comentaristas, analistas, interpretadores, primeiros-ministros, presidentes da República e técnicos de futebol. Os mares com tsunamis não estão para peixe, e os tubarões de todas as cores e poderes andam por aí, mordendo geral, não só banhistas e surfistas, mas vertebrados aquáticos de todas as classes. 

A Constituição Cidadã separou os poderes, para evitar usurpações, e criou três poderes "harmônicos" e "independentes" entre si. Volta e meia os poderosos brigam em privado e em público, nem sempre em alto nível, mas depois acabam se entendendo e, muitas vezes, ferrando o contribuinte. É como diz a sabedoria africana: "quando os elefantes brigam, quem saí perdendo é a grama". Tomara que nossos harmônicos e independentes poderosos leiam o artigo primeiro da Constituição: todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido.

Não estou totalmente contra nem totalmente a favor do governo. Tento examinar o que tem de bom ou de ruim, conversar com os outros e ver o que seria melhor. Acho que precisamos falar menos, respirar, dar umas pausas nos "discursos" e "narrativas" e deixar o tempo fazer o papel dele. O tempo se vinga das coisas feitas sem sua colaboração. Radicalismos e totalitarismos de direita, de esquerda ou até o "radicalismo de centro" não deram certo, é só entender a história do planeta.

Óbvio que devemos tentar, ao menos, falar mais baixo, ouvir o próximo, ser mais solidários e humanos, pensar mais no coletivo, procurar soluções pacíficas e deixar o egoísmo e a mania exagerada de acumular de lado - ao menos um pouco de lado - que o ser humano é acumulador juramentado. Kennedy disse: não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por ele. Se o barco coletivo afundar, ruim, mortal para todos. É difícil, é complicado, claro que é, mas é o caminho.

É preciso ver como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão, países nórdicos e outras nações resolveram seus problemas, suas diferenças e cresceram. Não se trata de direita, esquerda, centro ou outro rótulo. Se trata de andar para a frente, evoluir. Melhor pensar no que é melhor para o todo, observar as experiências humanas mais bem sucedidas e seguir desenvolvendo a eterna, infinita democracia. -

Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2019/05/685180-mudancas-e-recomecos.html)

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