14 DE MAIO DE 2019
INFORME ESPECIAL
POR QUE MORO AFUNDOU NO GOVERNO
Ovelha não é pra mato. Escrevi essa frase assim que o então juiz Sergio Moro foi convidado para largar a toga e entrar no sinuoso mundo da política. Magistrados são formados para julgar e decidir, geralmente em linha reta. Quando mudam de lado no balcão, seja para advogar ou para outra atividade, sofrem um doloroso período de adaptação, nem sempre superado com sucesso.
Quando Moro, símbolo da Lava-Jato, era o juiz mais popular do Brasil, todas as portas se abriam. Mas a gestão política opera com outro software, que inclui, no seu algoritmo, negociação, malícia, traição e despiste. Era óbvio que Moro teria imensas dificuldades nessa transição. O mais surpreendente é que ele não enxergou e sucumbiu à vaidade - uma vaidade bem intencionada. Achou que, com o apoio de Jair Bolsonaro e com seu prestígio, acabaria com a corrupção no Brasil.
Até mesmo os tijolos das paredes das celas da Polícia Federal da Curitiba sabem que a classe política não engole Moro. Ele botou na cadeia caciques e operadores anônimos das então maiores siglas no Brasil. Cada proposta apresentada por Moro no Congresso - e a sua eventual indicação para o STF - esbarrará em revanches fantasiadas de outras coisas - detalhes técnicos, alegações legais ou posturas ideológicas.
Moro jamais deveria ter embarcado nessa canoa furada. Ainda mais porque suas decisões, lá atrás, tiveram influência direta no cenário que levou à vitória de Bolsonaro. Apesar da fúria dos "moristas" e bolsonaristas na primeira vez em que escrevi isso, antes mesmo da posse no Ministério, repito com absoluta convicção: foi sim um deslize ético, assim como foi o fato de aceitar o convite e começar a trabalhar como ministro antes de se desligar oficialmente da magistratura.
Em Brasília, Sergio Moro virou mais um. Pouco ouvido, pouco relevante e, agora, esperando uma vaga no STF que talvez não venha, porque precisa passar pelo Congresso. Por tudo o que representa e por tudo o que fez pelo Brasil, torço para que encontre um caminho que faça jus ao seu passado recente.
TULIO MILMAN
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