sábado, 4 de maio de 2019


04 DE MAIO DE 2019
CARPINEJAR

O lado de lá



Os amantes casados são intransigentes. Não há como entender como alguém possa se submeter a eles. É uma tirania que nem o pior patrão ousaria.

É ter uma horinha livre que eles já desejam um encaixe e não admitem um não como resposta. Mesmo que o convite tenha partido em cima de hora.

Acreditam que o outro está sempre disponível. Agem com a urgência da mentira, para a esposa não descobrir. Passam os sinais vermelhos do respeito e da educação, como se fossem uma Samu da fantasia ou Corpo de Bombeiros do tesão.

Não se importam com as emoções do lado de lá, não enfeitam as palavras, muito menos disfarçam o interesse puramente carnal. Atropelam horários, afetos e compromissos alheios para que o encontro aconteça do jeito que querem e no momento que podem. Com o pretexto mentiroso de que não há como controlar a saudade, de que vêm sentindo muita falta, exigem que a companhia se adapte, falte ao trabalho, desmarque reuniões.

A gentileza só aparece na persuasão, como retórica, depois evapora. Apresentam pressa para entrar no motel, assim como sofrem da mesma pressa para sair e atender novamente as chamadas telefônicas da família sem correr riscos de questionamento do paradeiro.

Os amantes casados são egoístas e dissimulados. A versão mais desagradável dos homens. Prostitutas seriam mais respeitadas do que as suas parceiras.

Desmemoriados, não guardam recordação alguma daquilo que foi vivido a dois, até porque vivem apagando rastros e mensagens. Jamais lembrarão da data de aniversário da relação ou do próprio par. Sequer o número do telefone traz o verdadeiro nome de sua dona.

Desconhecem signos, predileções, medos. Separam sentimento do prazer, erotismo do casamento, sexo do amor. Não há passado ou futuro, ambos são negados com veemência.

Depois de dois anos de envolvimento, a amante solteira disse pela primeira vez que não poderia se encontrar com o seu amante casado. Afinal, a sua filha completava cinco anos. Sabe o que o sensível parceiro respondeu?

- Não tem como comemorar o aniversário em outro dia?

CARPINEJAR

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