sábado, 2 de março de 2019



02 DE MARÇO DE 2019
DRAUZIO

SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS E CÂNCER

Pessoas que têm ou tiveram câncer costumam fazer uso de suplementos nutricionais. As razões são variadas: prescrição médica, indicações de parentes e amigos, esperança de melhora dos sintomas, da qualidade de vida e das chances de cura.

Os suplementos mais comuns costumam conter o abecedário de vitaminas, sais minerais, aminoácidos e extratos de plantas. Inquéritos internacionais mostraram que o consumo é mais frequente em mulheres com câncer de mama, e mais raro nos portadores de câncer de próstata.

Infelizmente, os estudos prospectivos e randomizados de acordo com critérios científicos rígidos sugerem que nenhum suplemento nutricional melhora o prognóstico ou a sobrevida nos casos de câncer. Pelo contrário, alguns deles levantaram a suspeita de que os suplementos aumentariam a mortalidade provocada pela doença.

Em 2006, uma avaliação conjunta de vários estudos (metanálise) mostrou que a suplementação com antioxidantes ou vitamina A, não foi capaz de reduzir a mortalidade associada a diversos tipos de câncer.

No Estado de Washington, o acompanhamento durante 10 anos de uma coorte formada por 77 mil pessoas, revelou que a suplementação com multivitaminas, vitamina C ou E não reduziu o número de mortes pela doença.

Em dois grandes estudos observacionais, o uso de diversos suplementos nutricionais ou multivitaminas em mulheres com câncer de mama em fase inicial não diminuiu o número de recidivas nem a mortalidade por disseminação da doença ou outras causas. Achados semelhantes foram relatados com a administração de multivitaminas nos casos de câncer de cólon em estágio inicial.

Um estudo com pacientes operados de câncer de cólon mostrou que a reposição de betacaroteno faz aumentar o número de adenomas intestinais (lesões benignas que podem se transformar em malignas) naqueles que fumam, consomem álcool ou ambos.

Num estudo prospectivo e randomizado, 540 pacientes com tumores malignos localizados na cabeça e no pescoço tratados com radioterapia, foram divididos em dois grupos: o primeiro recebeu 400 UI/dia de vitamina E; o segundo, somente placebo. Surpreendentemente, o grupo da vitamina E apresentou mais mortes por câncer e por outras causas.

Um estudo sobre prevenção publicado recentemente (Select) mostrou que os homens designados para receber selênio ou vitamina E apresentaram incidência mais alta de diabetes e câncer de próstata, respectivamente.

Uma revisão recém-publicada avaliou o papel da vitamina D em pacientes com câncer. Em nenhum estudo houve redução da mortalidade.

Esses dados falam contra as condutas antiquadas de receitar aleatoriamente suplementos para pacientes com neoplasias malignas. Embora pessoas com deficiências específicas possam se beneficiar da suplementação, aqueles bem nutridos não colherão benefícios e podem ser prejudicados.

A orientação da Sociedade Americana de Oncologia Clínica é clara: "Antes que os suplementos sejam prescritos e administrados, deve ser feito todo o esforço para que os nutrientes necessários sejam obtidos por meio da alimentação".

DRAUZIO

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