16 DE MARÇO DE 2019
SEGURANÇA
JÚRI DO CASO BERNARDO CONDENA TODOS OS RÉUS
MADRASTA DO MENINO, Graciele Ugulini, recebeu a maior pena, 34 anos e sete meses, quase um ano a mais que a do pai do garoto
O dia 14 de abril de 2014 sentenciou Três Passos como uma cidade manchada por crime brutal. Nesta data, Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, foi encontrado morto em cova rasa, em Frederico Westphalen. No mesmo dia, foram presos o pai Leandro Boldrini e a madrasta Graciele Ugulini. Os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz também foram encarcerados por envolvimento no assassinato.
A noite de sexta-feira, 15 de março de 2019, representa uma tentativa de recomeço para a cidade. Às 19h4min, a juíza Sucilene Engler declarou os quatro réus condenados por homicídio e ocultação de cadáver, com base na decisão dos sete jurados. O pai ainda foi sentenciado por falsidade ideológica, em razão de ter comunicado à polícia o desaparecimento do filho, mesmo sabendo que ele já estava morto.
Para a juíza, tanto Boldrini quanto Graciele demonstraram sinais de frieza emocional, ao planejarem a execução do menino, com quem possuíam laço afetivo. A magistrada enfatizou na sentença que antes de terem levado Bernardo à morte, o pai e a madrasta almoçaram normalmente com o garoto, que aparentava estar feliz. Os dois receberam as maiores penas: ele, 33 anos e oito meses, ela, 34 anos e sete meses.
Sucilene ainda apontou na decisão que a madrasta e o pai cometiam violência psicológica e humilhação contra Bernardo. Isso ficou comprovado a partir de vídeos extraído do celular de Boldrini. "Cagão nas calças, vai lá atrás do teu pai. Não tenho nada a perder, Bernardo. Tu não sabe do que sou capaz. Prefiro apodrecer na cadeia a ficar contigo nesta casa", ameaça Graciele nas imagens.
Sobre Boldrini, Sucilene destacou que o médico foi trabalhar normalmente em 7 de abril, três dias após a morte do filho, mesmo sabendo que ele havia sido assassinado. Chegou a realizar uma cirurgia. No caso de Graciele, a juíza ressaltou que a madrasta viajou dois dias antes para Frederico Westphalen, onde comprou as ferramentas para ocultar o corpo, o remédio midazolam, usado para dopar e matar o menino, e a soda cáustica, jogada sobre o cadáver. Para a juíza, isso indica que o crime foi premeditado.
O fato de Bernardo ter apenas 11 anos foi fator que pesou contra todos os réus. A juíza excluiu somente a qualificadora de motivo torpe, mas aceitou as de motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação, no caso do pai e da madrasta. Sobre Graciele, a juíza não reconheceu o atenuante por conta da confissão, por entender que ela não admitiu o crime tal qual está na acusação.
O único que teve todas as qualificadoras afastadas do homicídio foi Evandro, que acabou condenado na forma simples do crime. Por isso, acabou sentenciado a pena inferior à dos demais. Como já está há 1.771 dias preso, embora o regime inicial da pena dele seja fechado, foi o único réu a receber direito de iniciar o cumprimento no semiaberto.
DEFESAS AVALIAM RECORRER DA DECISÃO
O último dia de julgamento teve salão lotado. Entre os réus, o detalhe que ganhou destaque foi a camiseta de Boldrini, com dois pequenos pés pintados e a frase: "Pai, eu sigo seus passos". A imagem faz referência à filha do médico com a ré Graciele. Ao fim do julgamento, o advogado Vanderlei Pompeo de Mattos, que representa a madrasta da vítima, afirmou que a dosimetria da pena foi acima do mínimo legal e que buscará recurso para reduzir a pena. Gustavo Nagelstein, que defende Edelvânia, disse que pretende recorrer, porque a confissão da sua cliente não foi reconhecida na sentença. Já a defesa de Evandro, Luiz Geraldo Gomes dos Santos, falou à reportagem que fará pedido para que ele vá para regime aberto. Os advogados que representam Boldrini não quiseram falar e declararam apenas que vão estudar se recorrem.
Ao saírem do fórum, os promotores Bonamente, Silvia Jappe e Ederson Vieira foram aplaudidos. Já os réus, receberam vaias e gritos de "assassinos".
- O Tribunal do Júri foi soberano e o conselho de sentença fez justiça, a justiça que se esperava há cinco anos - disse Bonamente.
Participaram desta cobertura Adriana Irion, Eduardo Matos, Leticia Mendes e Vitor Rosa
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