Jaime Cimenti
Thriller psicológico chocante
O bom filho (Editora Todavia-TAG-Inéditos, 288 páginas), romance de You-Jeong Jeong escrito no sistema hangul e traduzido do coreano por Jae Hyung Woo, que nasceu na Coreia em 1976 e vive no Brasil desde 1989, contou com o apoio do Instituto de Tradução de Literatura da Coreia (LTI Korea).
A obra é um thriller chocante que envolve morte, mistérios da mente e da memória, violência e histórias familiares. Como se vê, um coquetel com altas doses de glicerina pura. You-jeon Jeong nasceu na Coreia do Sul em 1966, publicou quatro romances que já venderam mais de um milhão de cópias e teve dois adaptados para o cinema: Shoot me in the heart (Prêmio Segye Literature Award) e Seven year of darkness, considerado um dos 10 melhores romances policiais pelo jornal alemão Die Zeit.
O bom filho é sua estreia no Brasil. A narrativa começa com um telefonema do irmão de Yu-jin pela manhã, perguntando se está tudo bem. Yu-jin acorda sentindo um estranho cheiro metálico e ao descer as escadas do elegante duplex onde morava com a mãe na Coreia do Sul, a encontra morta, deitada sobre uma poça de sangue. Yu-jin não lembra muito da noite anterior, mas tem a leve recordação da mãe chamando pelo seu nome. Pedia ajuda? Implorava por sua vida?
Este é o início da busca frenética e incessante para desvendar o crime. Yu-jin descobre segredos sobre si e sobre sua família, composta por pai, mãe, tia (irmã da mãe), um irmão biológico e um irmão adotado. A escritora inspirou--se num caso que chocou seu país: após uma viagem a Los Angeles, onde contraiu enormes dívidas, um jovem entrou em discussão com os pais e os esfaqueou até a morte.
Quando foi preso, mentiu sobre o acontecimento. You-jeong Jeong se questionou sobre o fato e escreveu O bom filho. Os brasileiros vão constatar que, não por acaso, a escritora é expoente em seu país e é comparada frequentemente ao norte-americano Stephen King, autor de thrillers mundialmente famosos. Antes de ser escritora, You-Jeong cursou Enfermagem. Já na faculdade, se interessou por psicologia e psiquiatria e trabalhou em UTIs e prontos-socorros.
Tecladictos
Confesso humilde e loucamente que tenho mais de quatro mil amigos no Face, que não consegui ler milhares de e-mails nos últimos tempos, que faço parte de não sei quantos grupos de Whats, que estou no Linkedin, no Instagram, no Messenger e mais não onde e estou com dezenas de aplicativos no iphone que parece uma extensão da mão e da mente e é uma espécie de irmão xifópago que está comigo dia e noite. Estou mais conectado que ouvido de sacoleira fofoqueira ou tubo em conexão Tigre com um monte de Super Bonder.
Cuidado que isso é fake, não se usa Super Bonder em tubos... Me disse agora o balconista da ferragem para onde acabei de ligar. Melhor não escrever ou trabalhar com o celular perto, porque aí fico dispersivo e posso acabar dispersando vocês, queridos oito leitores, a quem peço, inutilmente, que fiquem longe do celular durante os minutos que utilizarão (ou não) para lerem esses linhas sobre a tecladicção que nos pegou. Não sou contra a inevitável tecnologia, mas a favor da conversação e das relações humanas sem tanta intermediação eletrônica. Até os oito anos não tínhamos TV em casa.
Eu era televizinho. Fui na casa de amigos na serra gaúcha e, acreditem! Nada de TV na sala, só aparelho de som emanando um maravilhoso jazz tornando o ambiente ainda mais aconchegante. Sherry Turkle, autora de Alone Together (2011), professora de Psicologia Social do MIT e estudiosa das influências digitais no comportamento, negociou com a filha: nada de celular ou tablet na cozinha, na mesa de refeições e no carro, espaços familiares.
Conseguiu? Algumas famílias norte-americanas colocaram os computadores numa mesa na sala, para aproximar os familiares. É o "cocooning", encasulamento.
Precisamos administrar a nomofobia (no-mobile-phone phobia), o medo ou preocupação de ficar sem celular ou sem poder usá-lo e ficar de olho nos efeitos do excesso de tecnologia, ruídos, palavras e informações.
Há uns trinta anos atrás se pensava em não ler jornais, revistas e livros demais. Agora a oferta de informação eletrônica com essa velocidade leporina turbinada, traz exageros e problemas. Há oito anos, a Maria, 60 anos, faxineira da minha mãe, cantou a pedra: Jaime, larga o celular e conversa mais com a gente.
Os efeitos do celular no cérebro, no sono e na saúde em geral já são conhecidos e os alertas estão aí, inclusive e principalmente nos meios eletrônicos. A forma de comunicação eletrônica em si não é boa ou ruim e deve ser utilizada também para mostrar os próprios excessos.
Só curtir a nostalgia da vida sem tantas conexões e tecnoadicções é simpático, mas é pouco. Precisamos evitar isso de estar sozinho em meio a milhões ou de ter contato com tantos desconhecidos íntimos ou perfeitos desconhecidos.
Celu para baladas pode ser prejudicial. Um amigo estava numa festa com o celu da mulher no bolso, na beira da piscina, aí uma pessoa se encostou e ele caiu. A mulher deixou o telefone mergulhado no arroz por três dias. Não adiantou. Preju de quatro mil e bronca. -
Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2019/03/676353-thriller-psicologico-chocante.html)
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