23 DE MARÇO DE 2019
OPINIÃO DA RBS
RISCOS À REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Sem que o Planalto se decida a resistir a pressões, sem uma articulação forte no Congresso e na sociedade civil e sem comunicação ampla e estruturada, as alterações correm o risco de se restringirem a um voo de galinha
A decepção entre congressistas aliados com a modesta projeção de economia líquida de R$ 10,45 bilhões em uma década com a mudança no sistema de proteção dos militares é mais um sinal de preocupação com o futuro da reforma da Previdência. Os questionamentos dos congressistas levam em conta que, na esteira dos militares, grupos de pressão, sobretudo entre os servidores mais bem pagos, se organizam para fazer valerem seus benefícios ou trocá-los, como no caso do projeto enviado na última quarta- feira ao Congresso, por novos adicionais e penduricalhos.
É certo que nenhuma categoria ou indivíduo vê com satisfação a perspectiva de abrir mão de benefícios, mas a frustração coletiva pode levar a um efeito cascata de concessões e fazer a reforma desandar. Os sinais de preocupação são bem visíveis, a começar pelo termômetro do dólar, que se mantém em patamar elevado porque persiste a possibilidade de instabilidade econômica e manutenção da recessão no caso de uma reforma aguada pelos grupos de pressão.
A prisão do ex-presidente Michel Temer acirra o temor de divisões na base aliada. Já havia um claro desconforto, evidente pelo semblante do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante a entrega do projeto dos militares, com os titubeios do presidente Jair Bolsonaro. Recém convertido à necessidade da reforma, o presidente já se mostrou suscetível a pressões, particularmente de sua base de ativistas nas redes sociais. Além disso, ainda não entrou de corpo e alma na reforma da qual depende sua administração e a retomada do desenvolvimento.
O governo segue ainda tropeçando no crucial processo de comunicação das mudanças. Imaginando ter sido eleito por uma rede de tuítes agressivos, quando não ofensivos, o governo Bolsonaro persiste na ilusão de que sua base de apoiadores fará a defesa ardente da reforma. As redes que espalham grosserias e teorias conspiratórias não se prestam para comunicados oficiais e defesas de causas impopulares, como mudanças na aposentadoria.
O fato é que, sem que o Planalto se decida a resistir a pressões, sem uma articulação forte no Congresso e na sociedade civil e sem comunicação ampla e estruturada, as alterações correm o risco de se restringirem a um voo de galinha. Na hipótese de as mudanças se limitarem às intenções, todos perdem.
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