sábado, 9 de março de 2019



09 DE MARÇO DE 2019
FABRO STEIBEL

PRESIDENTE, O QUE É GOLDEN SHOWER?

O presidente Bolsonaro elegeu o Twitter como seu canal oficial de notícias. Com isso, a Presidência está mais personalizada do que nunca. Não só temos um presidente que pode responder ao que você escreve no Facebook como temos um Chefe de Estado que se propõem a se comunicar sem filtros, sem intermediários, pelas redes sociais.

Eis que durante o Carnaval, entre uma live e outra sobre a reforma da Previdência, Bolsonaro publica a seguinte pergunta: "O que é golden shower?". Golden shower, se você está se perguntando o que é, é um fetiche sexual por um objeto típico do corpo humano. Na nossa cultura, é algo que poucos admitiram em público admirar.

O interessante é que, ao adotar um comportamento tão "tiozão de WhatsApp", Bolsonaro parece manter sua promessa de ser como nós, humanos. Por outro lado, o inverso se revela: a comunicação da Presidência nunca foi tão profissional (e tão pouco pessoal).

O uso do termo golden shower choca. Mas parece ser proposital, algo profissionalmente colocado ali para lembrar que "tão importante quanto a economia é o resgate de nossa cultura", como postado pelo presidente minutos antes. A dobradinha do Tweet-tiozão e do Tweet-Chefe-de-Estado é cada vez mais comum na Presidência, e começa a ser lida pelos eleitores como um diálogo profissionalizado, nada pessoal.

Tanto é verdade que as postagens oficiais da Presidência colecionam comentários cínicos sobre o uso seletivo de como e quando se pronunciar. Quando há temas favoráveis ao governo, como a queda do dólar ou execução de obras públicas, lá estão os tweets e as transmissões ao vivo. Já quando os temas são espinhosos, como as investigações sobre Flávio Queiroz, ou as demissões de ministros, as cartas com brasão assinadas por terceiros aparecem.

Infelizmente, o uso de Twitter por Bolsonaro está cada vez menos inovador. Inovador mesmo seria usar as redes sociais para aumentar formas de as pessoas ajudarem ao governo. Não que seja fácil, mas essa é uma bandeira do governo Bolsonaro: participação social, efetiva.

A mensagem passada, entretanto, é de muita decisão centralizada e pouca inovação em participação social. Os Conselhos Sociais, que existem desde os anos 1930, estão sob ataque; a colaboração nossa está sendo evocada para denunciar abusos - como nos pedidos para gravação de professores em sala de aula. Mas e as formas de melhorar processos na saúde, na educação e na segurança, como vamos colaborar de fato com isso? Existem milhões de voluntários esperando formas construtivas de fazer isso.

Um barril de pólvora está se construindo. De um lado, bots, trolls e propaganda computacional tornam a comunicação da Presidência nas redes um desafio sem fim. De outro lado, a comunicação direta da Presidência está cada vez mais chapa branca. A pergunta sobre golden shower nos leva a lugar algum, exceto a mais do mesmo. Enquanto isso, o desejo de botar a mão na massa, e ajudar a melhorar o país, permanece latente.

FABRO STEIBEL

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