quarta-feira, 13 de março de 2019



11 DE MARÇO DE 2019
CAPA
Muitas formas de existir

FRONTEIRAS DO PENSAMENTO 2019 discutirá os sentidos da vida em oito conferências; venda de pacotes começa hoje

Uma antiga questão filosófica que se transfigurou na contemporaneidade será o tema do Fronteiras do Pensamento em 2019. Com o mote Os Sentidos da Vida, o ciclo de conferências começará no dia 13 de maio, trazendo como atração de abertura a política e ativista dos direitos humanos moçambicana Graça Machel. Os pacotes para as oito palestras começam a ser vendidos hoje.

Ao investigar os sentidos da vida no plural, o Fronteiras abre espaço para múltiplas possibilidades de reflexão, sem a pretensão de oferecer uma resposta pronta. Haverá desde convidados que dedicam suas vidas a ações práticas de transformação social, como Graça e o médico congolês Denis Mukwege, até quem encontre sentido na reflexão e na criação artística, como o escritor americano Paul Auster, o cineasta alemão Werner Herzog e o filósofo britânico Roger Scruton, passando por aqueles que transitam entre teoria e prática, a exemplo do filósofo francês Luc Ferry, que foi ministro da Educação em seu país, e o psicanalista e escritor Contardo Calligaris.

- Sem negar sua história, que trata de filosofia e temas globais, o Fronteiras vai falar de um tema que diz respeito à vida das pessoas. Elas poderão se enxergar. Cada noite de conferência levará a uma reflexão individual sobre como cada um vive, sobre a forma como cada um faz as suas escolhas. Sem, evidentemente, ensinar nada a ninguém, porque não se ensina como viver, cada um deve aprender sozinho. Mas pode pensar, refletir - explica o curador do Fronteiras, o cientista político e professor do Insper Fernando Schüler.

UMA VIDA FELIZ OU INTERESSANTE?

Um dos pontos de partida para a edição deste ano é a declaração de Calligaris segundo a qual ele não deseja ser feliz, mas ter uma vida interessante. A pergunta é: o que é uma vida interessante?

- Isso lembra de alguma maneira a eudaimonia de Aristóteles, ou seja: qual é a potência que posso empregar na minha vida? Como posso realizar algo que diz respeito profundamente a mim mesmo, ao que posso ser, à excelência que contenho dentro de mim? - interroga Schüler.

A questão é ainda mais premente em uma época na qual vivemos muito mais tempo do que nossos antepassados. Schüler nota que, contrariamente ao ideal de vida heroica e eventualmente curta que marcou o século 19, cultivamos hoje a ideia de uma vida longa e leve. O que não exclui novas formas de heroísmo, a exemplo de Mukwege, que criou em 1999 um hospital em sua cidade natal, Bukavu, no Congo, para tratar mulheres vítimas de violência sexual, tendo recebido o Prêmio Nobel da Paz em 2018.

Também a ficção oferece modelos, lembra o curador do Fronteiras, chamando atenção para Nathan Glass, protagonista de Desvarios no Brooklyn, de Paul Auster. Aproximando-se de seus 60 anos, o aposentado Glass, saído de um casamento fracassado e rejeitado pela filha, decide retornar ao bairro do Brooklyn, onde nasceu, para encerrar a vida. A mudança e o encontro com outros personagens motivam a descoberta de novas experiências.

Mas a busca pelos sentidos da vida não vem desprovida de desafios. Afinal, esta é uma época de excessos: de consumo, de informação e até de carreiras. Toda essa abundância exige escolhas e, portanto, implica perdas e frustrações.

- Como se vive em uma sociedade que exige muito de cada um do ponto de vista das posturas individuais? A ficção de Black Mirror não está tão longe da nossa vida. A internet é uma grande máquina de não esquecimento. Tudo isso traz uma carga ética, mas também angústia - diz Schüler.

O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria cultural PUCRS, e empresas parceiras Unicred e CMPC. Universidade parceira UFRGS e promoção Grupo RBS.

FÁBIO PRIKLADNICKI

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