quarta-feira, 13 de março de 2019



12 DE MARÇO DE 2019
LUÍS AUGUSTO FISCHER

NA TELA OU NO PAPEL?

Nós, nativos gutemberguianos, olhamos para os nativos digitais com estranheza: como conseguem ficar na tela tanto tempo? Sabem tudo, não têm medo de ir avançando, parecem bem felizes.

E são mesmo. Na tela, as interações resultam em satisfação imediata, ou o cara abandona aquilo e vai adiante. Nos jogos, que vejo agora diariamente com meu filho de 12 anos, a satisfação vem marcada pela rapidez com os resultados são alcançados – quanto mais ele joga, mais ele galga posições, ganha apetrechos, vence oponentes. Em redes sociais, é meme em cima de meme, riso rápido e vamos adiante. Prazer imediato ou nada feito. Quando me perguntam sobre o futuro do livro em papel, sempre repito o que me parece, intuitivamente: leitura de fundo eu prefiro em papel (romances, poesia, livros de estudo), e livros de consulta pontual na tela (enciclopédias, dicionários). Me parecia certo isso.

Mas leio agora, no jornal digital português Público, que uma pesquisa extensa, com mais de 170 mil sujeitos, comandada por professor da Universidade de Valência, Espanha, com conexões com outras e envolvendo ampla revisão de estudos sobre o tema – melhor ler em papel ou na tela? –, conclui que na escola funciona melhor, para o aprendizado, a leitura em papel.

(Para meu desespero, ele sugere que a leitura de romance e poesia não faz muita diferença ser feita em papel ou na tela. Jura?) Por quê? Hipótese de Ladislao Salmerón, o pesquisador: os nativos digitais, quando vão para a tela estudar, esperam ali aquele mesmo prazer instantâneo a que foram acostumados, coisa que não ocorre ao ler, ao estudar, ao pesquisar na tela. Por isso o papel é superior. Sobretudo quando o tempo é curto, diz ele. Na tela, “o estilo de processamento é mais superficial” no cérebro do leitor.

Não posso deixar de saudar a sorridente hipótese de que as fundações estaduais de pesquisa, criminosamente extintas pelo governo Sartori, estejam agora sendo consideradas em bem outra perspectiva – a de serem incorporadas à Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. É uma saída inteligente e futurosa que o governo Leite pode proporcionar à Zoobotânica, à Piratini, à Cientec e outras, e aos gaúchos todos, indiretamente. Dedos cruzados! A inteligência, na tela ou no papel, agradece penhorada.

LUÍS AUGUSTO FISCHER

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