21 DE NOVEMBRO DE 2018
ARTIGO
PARE O MUNDO, PRECISAMOS DESCER
Somos resultado das mesmas construções poéticas, queiramos ou não.
"Pare o mundo, preciso descer!" Eis o sentimento da sociedade quando, sem qualquer pudor, lhes são escarrados aumentos salariais ao STF, reajustes automáticos para juízes e promotores, R$ 232 milhões para os funcionários do TCE etc. Descer do mundo, quem sabe seja a única hipótese viável para professores, brigadianos, médicos, empresários, profissionais liberais, nós outros, que, varridos pela crise, só pedimos horizontes e sobrevivência enquanto bancamos a farra no andar de cima.
"E todos disseram/ que no além do horizonte/ há um mundo tranquilo/ que todos esperam/ um dia encontrar." É o verbo do quaraiense Luiz Menezes. Com a explosão definitiva do poeta, vaticinou: "Palavras têm força/ e todos têm fé/ disseram somente/ mas ver ninguém viu".
Quando nós, cidadãos impotentes, percebemos um Estado ajoelhado às suas aristocracias funcionais, é certo que nada mais podemos pedir do além do horizonte que não um desejo de morte indolor. Não precisamos ir longe nem exaurir grandes estudos para ver aonde mais esta desfaçatez irá nos levar. É inacreditável que os mais aquinhoados não se sintam parte do problema. Como é possível que a "alta" casta da burocracia estatal não se sinta partícipe desse enredo torpe que somente pode nos levar ao caos? E nem pergunto se eles nos veem como sociedade, a razão das suas existências.
Mas e bem, sorvo o cancioneiro gaúcho para sentir o definitivo roncar do mate, enquanto na voz de José Cláudio Machado ouço a profecia que vem bem próxima: "A tropa segue devagar mugindo tonta/ talvez pressinta/ que seu fim é o matadouro".
Artista plástico, escritor, mestre e doutor em Direito ricardo@estudiorg.adv.br - RICARDO GIULIANI NETO
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