Democracia, identidade e política no Fronteiras
Com chave de ouro, o cientista político e professor universitário Mark Lilla, da Universidade de Columbia, e o filósofo, colunista e professor Luiz Felipe Pondé participaram do encerramento da temporada de conferências 2018 do consagrado Fronteiras do Pensamento. Nesse momento em que estamos, foi oportuno e emblemático o encontro, para falar de democracia, ceticismo, pessimismo, identidades, papel da imprensa, atitudes dos jovens, redes sociais, solidão na atualidade e outros temas altamente relevantes e impactantes para nós, para o Brasil e para o mundo.
Lilla falou de nosso tempo de ideologias, de como vivemos isolados e individualistas e do nosso alto grau de ressentimento e de como nos sentimos tão facilmente ofendidos. Lilla enfatiza como nos fixamos em políticas identitárias ao invés de nos preocuparmos mais com solidariedade, cidadania e outros valores capazes de enfrentar as diferenças. Para ele, os jovens pensam mais em questões pessoais de gênero, por exemplo, ao invés de se preocuparem com crises econômicas e política externa.
Pondé falou da necessidade de mediar conflitos, da necessidade de sermos maduros em relação à democracia, o regime menos imperfeito. Falou de usarmos as redes sociais com mais proveito para algum entendimento entre grupos e pessoas tão divididos e para construir um convívio menos danoso, um convívio democrático e mais harmônico possível entre pessoas que pensam diferente.
Pondé enfatizou que a imprensa precisa ser menos partisan, ou seja, menos partidária, sectária, obsessiva e que necessita ser cética, analisar, refletir e fazer comparações. Pondé falou que, além da necessidade de sermos mais maduros, devemos começar nossa educação a partir de nossas casas.
Enfim, após análises de momentos e pensadores do presente e do passado, Lilla e Pondé nos convidam a refletir e agir em relação a um mundo e a habitantes preocupados demais com questões de grupo, de identidade e de egos excessivamente inflados, gigantes e hipersensíveis. Egos que não cabem nem no majestoso Beira-Rio, um dos estádios mais bonitos do mundo, ou o mais bonito, para muitos.
Vamos ser democratas também quanto a futebol, até utilizando, em alguns casos, a famosa democracia corintiana. Para que a milenar democracia se reinvente e não acabe tão cedo, é preciso, realmente, pensar e agir em termos de cidadania, solidariedade, respeito ao outro e valores que possibilitem o melhor relacionamento no regime em que a "tirania da maioria" substituiu a antiga "tirania do rei".
A imprensa tem um papel essencial nisso e deve vigiar e informar quanto às pessoas e aos acontecimentos. Deve exercer seu papel de "gatekeeper", de filtro e de partícipe indispensável da democracia, sem submeter-se a partidos, ideologias, sectarismos e pressões indevidas.
As redes sociais têm uma importância nunca vista e imaginada, e isso é um convite para usá-las de modo menos violento, danoso e deletério.
A propósito...
Não podemos ser totalmente otimistas, oba-oba e achar que encontraremos o regime perfeito e acabado, que seremos felizes para sempre num mundo encantado. Não podemos ser céticos a ponto de não encontrarmos solução alguma.
Precisamos exercer toda a democracia possível, com cidadania, solidariedade e não devemos esquecer que gostar mesmo dos outros ou de suas ideias é mais verdadeiro quando os outros e suas posições são diferentes das nossas. Infelizmente não podemos amar a todos, uns aos outros, como pretendeu Jesus, com ótimas intenções.
O ser humano é complicado e a democracia idem. Mesmo sem sair abraçando, beijando e amando os vizinhos, devemos lembrar que estamos no mesmo barco e que devemos evitar as violências ao máximo. A vida e a liberdade agradecem. (Jaime Cimenti) -
Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2018/11/657681-crime-na-porto-alegre-da-belle-epoque.html)
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