terça-feira, 27 de novembro de 2018



27 DE NOVEMBRO DE 2018
ARTIGO

PARA DECIFRAR O DRAGÃO CHINÊS

Durante décadas, nós, ocidentais, víamos a China com certa estranheza, talvez resultado de um simplismo. Um país continental e comunista associado a produtos de qualidade duvidosa e, nas piadas étnicas, tendo seu povo limitado a "são todos iguais, a gente não consegue distinguir um do outro". 

O próprio símbolo do país, à primeira vista, pode gerar uma impressão equivocada, pois conectamos a ideia do dragão mais para monstro apavorante do que para a criatura benevolente idolatrada pelos chineses. Para eles, é sinônimo de poder, força, nobreza e boa sorte. Trata-se de um ser místico com características de diversos animais, como olhos de tigre, corpo de serpente, patas de águia, orelhas de boi e bigodes de carpa.

Essa multiplicidade, aliás, não poderia ser mais perfeita para entender a China contemporânea, uma nação com 1,4 bilhão de habitantes, cuja economia se diversificou. Desde 1979, vem mantendo uma incrível média de crescimento anual de 9,7%.

Há uma expressão bastante usada no país que revela uma visão de mundo dos empreendedores - "Data is new oil" ou "dados são o novo petróleo". Sim, eles são obcecados por informação e acreditam que o comando das empresas deve ter isso como prioridade absoluta. E, para concretizar o propósito, agem com foco, disciplina e pragmatismo. O conjunto destas três palavras pode ser visto como conservadorismo, ainda mais dentro de uma sociedade que se desenvolveu sob um regime totalitário no qual até quantidade de filhos era questão de Estado.

O certo é que as mesmas três palavras galvanizaram um comprometimento indiscutível nas pessoas e nas suas empresas. Elas gostam de trabalhar e demonstram muito orgulho em apresentar as consequências disso, seja por meio de eficiência operacional, da tecnologia que fez o país praticamente pular direto do papel- moeda para os meios virtuais de pagamento, sem passar pelo crediário e cartão de crédito. 

A maior parte dos chineses sequer aceita gorjeta: "Keep your money", agradecem. Em mandarim, talvez acrescentassem: "Gosto do que faço e tenho prazer em servi-lo". Eu complementaria: "Por isso, conquistaram o posto de segunda maior economia do mundo".

Empresário, presidente da CDL de Porto Alegre 
ALCIDES DEBUS

Nenhum comentário: