10 DE NOVEMBRO DE 2018
OPINIÃO DA RBS
ESCOLHAS ACERTADAS
Sem uma nova mentalidade nos parlamentos e no Judiciário, o Brasil seguirá assombrado por corporações, por lobbies sem fim e pela partilha do governo
Os primeiros anúncios para o mais alto escalão do governo Jair Bolsonaro (PSL) confirmam o que o presidente eleito prometeu em campanha: um ministério eminentemente técnico e qualificado e uma drástica redução no número de pastas. As mudanças não se restringem a nomes e à quantidade de ministérios. O futuro presidente da República deu mostras até agora de que está disposto a interromper a malfadada prática de loteamento do governo por representantes de partidos que, sem muita afinidade com o presidente, transformavam as pastas em postos avançados de suas siglas, nem sempre com motivações muito republicanas.
A ruptura com um passado clientelista não se faz sem choro, lágrimas e um tanto de orfandade dos velhos hábitos. Para ficar só em dois exemplos - o do futuro dos ministérios da Indústria e Comércio e do Trabalho-, os primeiros sinais emitidos pelo novo governo são positivos. A par de alguns serviços louváveis prestados à nação, que devem ser mantidos e ampliados em outras pastas, os dois ministérios haviam se convertido em balcão para reivindicações e pressões partidárias, quando não para desvios de recursos, como os que macularam estruturalmente o do Trabalho.
É nessa fase de reestruturação do Executivo que se percebe com mais nitidez o ideário do novo e poderoso ministro da Economia, Paulo Guedes. Os setores e partidos que clamam por um ministério para chamar de seu vão seguir estridentes, mas o fato é que o modelo paternalista e de loteamento de cargos que vigora há décadas se mostrou um retumbante fracasso administrativo. Repeti-lo seria manter mais do mesmo, com um desfecho já conhecido: corrupção desenfreada e um país de cofres exauridos, sob ameaça de atrasar salários e fornecedores, como já ocorre em alguns Estados quebrados pela irresponsabilidade fiscal de décadas.
Muitos nomes anunciados até agora também sedimentam a noção de escolhas acertadas, por sua qualificação e complementaridade, como são também os casos de Sergio Moro no combate à corrupção, Marcos Pontes na Ciência e Tecnologia e Tereza Cristina na Agricultura. O grande desafio é que o rompimento com o fracassado presidencialismo de coalizão não pode ser feito apenas por um poder. Sem uma nova mentalidade nos parlamentos e no Judiciário, o Brasil seguirá assombrado por corporações, por lobbies sem fim e pela partilha do governo entre siglas que vêm e vão ao sabor de benesses públicas. Não é esse o desejo da sociedade, que nas eleições deste ano, majoritariamente, manifestou a expectativa de mudança em um modelo viciado e ultrapassado.
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