15 DE NOVEMBRO DE 2018
CAPA
Cem anos de solidão
O GRANDE CIRCO MÍSTICO, filme mais recente de Cacá Diegues, narra em tom de fábula saga familiar que atravessa um século
Éapropriado que um longa-metragem cuja narrativa se constrói da própria passagem do tempo tenha demorado tanto a ser feito, como no caso de O Grande Circo Místico, mais recente filme dirigido por Cacá Diegues, que estreia hoje nos cinemas. Ao todo, entre idas e vindas de produção e roteiro, o longa demorou mais de uma década para ser realizado.
Com um elenco estrelado que inclui nomes como Mariana Ximenes, Bruna Linzmeyer, Antonio Fagundes, Juliano Cazarré, Marcos Frota e Jesuíta Barbosa, a produção narra a trajetória de cinco gerações de uma família proprietária de um circo, de 1910, quando a companhia é fundada, até o século 21, quando a decadência do próprio circo se reflete na de muitos dos personagens. Um último atraso no caminho foi o adiamento da estreia, originalmente marcada para setembro e postergada para agora devido ao clima tenso das eleições presidenciais.
- Com o atual momento que vivemos, achamos apropriado adiar a estreia para depois das eleições, com esperança de que as coisas estejam melhores - comentou a produtora do longa, Renata Magalhães, após a exibição fora de competição no Festival de Gramado, em agosto.
O Grande Circo Místico, aliás, foi indicado para representar o Brasil na disputa pela indicação ao Oscar de filme estrangeiro, mesmo sem ter estreado comercialmente. Trata-se da adaptação do poema de mesmo nome escrito por Jorge de Lima (1893 - 1953). De modo geral, a narrativa segue de perto o pouco que o poeta esboça nas 47 linhas do texto original. No início do século 20, o jovem aristocrata de ascendência europeia Fred (Rafael Lozano) funda um circo como presente à sua amada, uma contorcionista chamada Agnes (Bruna Linzmeyer), que se apresenta em uma casa de espetáculos de terceira classe. Com a passagem das gerações, o circo vai sendo herdado pelos filhos - e principalmente filhas - de cada geração.
CHICO BUARQUE E EDU LOBO ASSINAM TRILHA SONORA
Cacá Diegues levou cerca de uma década ajustando o roteiro enquanto se dedicava a outros projetos, como a produção do longa 5X Favela: Agora por Nós Mesmos e a direção do documentário Rio de Fé. O maior desafio, de acordo com o que o diretor contou em Gramado após a exibição do filme, foi acertar o tom e dar "recheio" ao fiapo de história produzido por Jorge de Lima no breve poema. Com um roteiro pronto em 2014, as filmagens foram realizadas entre janeiro e março de 2015 - as locações precisaram ser transferidas para Portugal para que o diretor pudesse filmar um circo que ainda funcionasse com animais, algo proibido no Brasil.
Foi um filme que exigiu do elenco uma grande preparação física. Para viver a contorcionista, Bruna Linzmeyer se dedicou a um treinamento de Yoga. Maria Ximenes fez seis meses de aulas de trapézio e faz praticamente todas as suas cenas no alto da lona.
O elenco também flagra o circo como uma comunidade internacional. Além de Vincent Cassel, astro francês de produções como O Ódio e Irreversível, também estão no filme a francesa Catherine Mouchet (de O Pornógrafo), o polonês David Ogrodnik (de Ida), entre outros. Em uma recusa dos cânones do realismo cinematográfico, Jesuíta Barbosa interpreta Celavi, mestre de cerimônias do circo que é também mescla de narrador e coro grego, já que está presente em todas as etapas da companhia - enquanto outros personagens envelhecem e morrem, Celavi permanece inexplicavelmente jovem.
Mais até do que o elenco que, apesar de variado, ou por isso mesmo, opera em tons irregulares, os grandes trunfos do filme são sua estética bem-cuidada, com uma fotografia rica em cores e nuances, e a trilha sonora de Chico Buarque e Edu Lobo - composta para o espetáculo homônimo de 1983, baseado no mesmo poema e criado por Naum Alves de Souza para o Balé Teatro Guaíra, de Curitiba.
CARLOS ANDRÉ MOREIRA
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