terça-feira, 6 de outubro de 2015



06 de outubro de 2015 | N° 18316 
LUÍS AUGUSTO FISCHER

MAS ELE LEU MESMO?

Sim, ele leu. Guimarães Rosa leu Simões Lopes Neto, sem qualquer dúvida. Leu e conheceu. A história dessa relação é longa, e ainda não foi toda contada.

Antes, porém, afastemos dois equívocos. Primeiro: como somos uma província que vive alternando entre uma sensação de inferioridade (“Ninguém nos faz justiça”) e outra de superioridade (“Sirvam nossa façanhas”), quando se identifica que um gênio como Rosa leu um gaúcho surge a fantasia de que sem o gaúcho Rosa não existiria. Rigorosamente impossível afirmar isso. Segundo: logo alguém vai usar o termo “precursor”, como se disse, com o mesmo equívoco, de Qorpo-Santo em relação ao teatro do absurdo. Conta torta.

Semana retrasada, num debate no Instituto Simões Lopes Neto, em sua Pelotas natal, tive mais uma oportunidade de conversar com leitores e pesquisadores atentos, como Carlos Francisco Sica Diniz e Fausto Domingues. E abordamos este tema, da relação entre Rosa e Simões Lopes. Diniz lembrou das anotações que Rosa fez, em seu exemplar da edição da Globo, de 1949, dos Contos Gauchescos, em que o mineiro se rende, antes de tudo, à força da linguagem do gaúcho.

E Fausto lembrou depoimento eloquente: Theodemiro Tostes, poeta e diplomata gaúcho, conta, em texto ao Correio do Povo de 1974 – “Me lembro da boa surpresa que me deu Guimarães Rosa, quando, em nosso último encontro em Montecatini (Itália), falou de sua admiração pela obra do grande pelotense”. E atenção agora, atento leitor: 

“Rosa sabia frases inteiras dos Contos Gauchescos e das Lendas. E, como artesão incomparável da pura fala brasileira, repetia com gosto certos vocábulos que pareciam mais raros ao seu ouvido”. (Está citado no livro Theodemiro Tostes – Porto Alegre, Modernismo, Poesia, Memória, edição IEL/ PUCRS, 2009, sob organização de Tânia Carvalhal.)

Como se diz em filme de tribunal norte-americano, sem mais perguntas, meritíssimo.

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