terça-feira, 6 de outubro de 2015



06 de outubro de 2015 | N° 18316
EXEMPLO O SOM DO SONHO

Uma vida transformada pela música


AOS 16 ANOS, WESLEI pode descrever o exato momento em que sua história mudou completamente. Desde que conheceu o contrabaixo clássico, ele sonha com a noite de hoje, quando se apresentará junto à Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, a Ospa
Dois anos atrás, ele não sabia a diferença entre o contrabaixo clássico e o elétrico. Hoje, Weslei Felix Ajarda sobe ao palco para tocar o instrumento junto à Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa).

O garoto cresceu. De 2013 para cá, espichou 15 centímetros, engrossou a voz e deixou o cabelo crescer. O sorriso fácil e a dedicação pela música parecem seguir o ritmo de sua altura: só aumentam. Quando estava descobrindo a paixão pela música, Zero Hora acompanhou os primeiros passos do menino que mora no bairro Guajuviras, em Canoas. Após a reportagem, o estudante ganhou a versão clássica do instrumento doado por um jornalista do Rio Janeiro.

– Evoluí muito. Foi uma experiência enorme. Depois de ganhar o contrabaixo, meus estudos estão muito bons. Pude praticar em casa, mudei muito. Melhorei na escola, amadureci. Me tornei mais responsável – conta Weslei.

Desde aquele ano, quando olhou aquele aparelho maior do que ele pela primeira vez, tem sonhado com a oportunidade de tocar ao lado de músicos profissionais na principal orquestra do Estado.

Um concurso interno inédito realizado em 2015 pela Escola de Música da Ospa, o Conservatório Pablo Komlós, para alunos da instituição era a chance para chegar lá. A competição teve duas fases e 18 jovens inscritos, muitos com anos de experiência. Mesmo com pouco tempo de prática, Weslei resolveu tentar.

O músico e professor do menino, Eder Kinappe, sabia que as dificuldades seriam grandes:

– Quando surgiu o concurso, vi que seria um grande desafio para o Weslei. Ele começou do zero. Há dois anos, nunca tinha tocado um contrabaixo acústico.

A audição foi às cegas. Atrás de uma cortina, os candidatos tocavam sem revelar sua identidade. Tudo para os jurados avaliarem apenas o aspecto musical. Na primeira fase, o garoto superou todos os instrumentistas de cordas. Na segunda, aos alunos especialistas em todos os outros instrumentos. Então, veio o resultado dos ensaios e aulas extras e das seis horas diárias incessantes em seu pequeno quarto: Weslei ficou em primeiro lugar no ranking geral.

FRIO NA BARRIGA À ESPERA DO GRANDE DIA

Junto ao prêmio, a ansiedade pelo grande evento. Nos últimos dias, Weslei tem ensaiado a subida ao palco, a posição perante o público e para onde vai mirar o olhar quando estiver interpretando Stravinsky e Tchaikovsky ao lado de músicos renomados que compõem a Orquestra Sinfônica da Ospa.

Hoje, às 20h30min, o Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul recebe o quinto concerto da Série UFRGS, mas o espetáculo poderia se chamar “o grande sonho de Weslei”.

– Espero que o salão esteja lotado. Vai ser um momento histórico na minha vida. Vou dar meu máximo para que as pessoas sintam o que vou sentir em cima do palco – projeta o adolescente de 16 anos que vai vestir fraque pela primeira vez.

Eder, que além de professor é contrabaixista da Ospa, se diz orgulhoso e realizado pela chance de tocar ao lado do pupilo.

– Ver seu crescimento e envolvimento é algo que dá razão para tudo isso, faz o meu trabalho ter sentido – diz emocionado.

Mesmo com a realização, o menino que transformou suor em música já projeta seus próximos objetivos. No ano que vem, quer passar no vestibular da federal para estudar Música.

– Não apenas acho que a música tem o poder de transformar vidas. Tenho certeza. Ela fez isso comigo.

felipe.martini@zerohora.com.br

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