sexta-feira, 8 de maio de 2009



BARBARA GANCIA

O homem que ama as mulheres

A mesma exposição que estará no Ibirapuera foi exibida no Musée de L'Homme, no Palais de Chaillot, em Paris

O QUE, ALÉM do rabo e dos chifres, esta humilde datilógrafa tem em comum com Dercy Gonçalves ou com a atriz e mulherão Paula Burlamaqui? Nunca fiz parte de tribo nenhuma, nunca me filiei a nenhuma agremiação e estou com Groucho Marx quando ele dizia que jamais pertenceria a um clube que aceitasse alguém como ele como sócio.

Também não tenho nada a ver com Tiana, ex-jogadora de futebol do Vasco e atual líder comunitária da favela da Rocinha que perdeu pai, mãe e dois irmãos para o tráfico.

Com Cristiane, ex-catadora de lixo, de paradeiro incerto. Com Nélida, que saiu adolescente de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, para buscar fama e fortuna como modelo e atriz na capital.

Com a ex-ministra (quem me dera) Marina Silva. Com a kalunga Joana, de 107 anos, que nunca deixou Cavalcanti, o povoado em nasceu, em Tocantins, ou com a prostituta Rosa que já completou 60 anos de profissão e se orgulha de ter servido a um inteiro navio grego.

A partir da próxima segunda-feira, dia 11, o visitante da Oca, no parque Ibirapuera, poderá ver a mim, a todas essas mulheres e a centenas de outras representantes do sexo feminino do Sudão, do Afeganistão, da Colômbia, da Índia, da Palestina e da China, entre outros, reunidas no mesmo espaço, na mostra "Mulheres do Planeta".

Fomos retratadas a guache, filmadas, entrevistadas e devidamente dissecadas pelo francês de origem marroquina Titouan Lamazou, aventureiro, artista e navegador profissional que passou sete anos virando o planeta de ponta-cabeça com apoio da Unesco a fim de documentar a condição feminina no mundo.

A mesma exposição que estará no Ibirapuera foi exibida no Musée de L'Homme, no Palais de Chaillot, em Paris, de outubro de 2007 até março de 2008.

Realmente, na falta de chifres, escamas, penas ou, quiçá, de um rabo em comum, a única coisa que nos une é sermos do mesmo sexo, termos nos disposto a posar para o artista e compartilharmos do mesmo planeta Terra.

Posei para Titouan há coisa de uns cinco anos, e o camarada que representa meus "seis graus de separação" com mulheres tão mais ricas do que eu tornou-se um amigão. Personagem singular, o artista.

Aos 15 anos, para fugir da escola, subiu em um barco a vela e nunca mais apareceu para jantar na casa dos pais. Acabou dando a volta ao mundo de veleiro e batendo um recorde qualquer que o trouxe de volta aos Champs-Elysées em desfile de carro aberto com direito a chuva de papel picado.

Em uma de suas viagens solo de veleiro, levou consigo "Grande Sertão: Veredas". O livro de Guimarães Rosa virou a grande paixão de sua vida e, na etapa brasileira para captar as mulheres do mundo, o sertão de Guimarães Rosa foi um dos lugares que mais tomou seu tempo.

Titouan continua tentando desvendar os mistérios de Diadorim. Mesmo com a exposição pronta e entregue, ele segue viajando em nome das mulheres pela fundação que mantém para ajudá-las.

Não é à toa que foi um francês (François Truffaut) o autor de um filme chamado "O Homem que Amava as Mulheres"...

barbara@uol.com.br
www.barbaragancia.com.br

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