terça-feira, 12 de maio de 2009



12 de maio de 2009
N° 15967 - LUÍS AUGUSTO FISCHER


Reforma no Ensino Médio

O Ensino Médio (ex-Segundo Grau) está na pauta dos debates, de modo inédito. Primeiro foi a proposta trazida pelo Ministério de Educação, forçando a barra para que o Exame Nacional (mais conhecido pela sigla Enem) seja tomado pelas Universidades como o vestibular, invenção já cheia de arestas – por exemplo, um Enem nacional certamente vai tender a apagar as diferenças regionais, que no Brasil são grandes e não são necessariamente um rebotalho conservador.

Numa prova única para todo o território, quando é que vai haver lugar para a Revolução de 93 no Rio Grande do Sul e para Erico Verissimo? Aposto que o que vai aparecer é a Revolução de 32 em São Paulo e Mário de Andrade.

Tese para debate: assim como os biólogos defendem, com toda a razão, a biodiversidade, nós, que lidamos com cultura, devemos lutar pela (desculpado o palavrão) culturodiversidade.

Faz bem para o futuro a gente manter vivas a diferença regional e as identidades grupais, tanto quanto faz bem preservar animais em perigo de extinção. Pode me chamar para defender isso de público; e então vamos poder matizar essa tese com a consideração das virtudes da unidade nacional, que há, e das vantagens de ser cosmopolita, que há em maior proporção ainda.

Agora, pela voz da secretária estadual de Educação (que tem entre seus méritos a experiência no ramo e uma louvável disposição para meter a mão na amorfa massa da gestão da educação pública), ficamos sabendo de uma ideia, ou mais que isso de uma determinação, que levará à integração das várias disciplinas do Ensino Médio em quatro áreas. Isso, dito assim, pode ser tão bom quanto ruim, digo eu; integrar áreas de conhecimento interessa a todo o mundo inteligente, em qualquer ramo do conhecimento; mas o que quer dizer “integrar”, nessa proposta?

Zero Hora de 6 de maio reportou o tema, e ali se lê que se trata de uma intenção de que haja aulas integradas, provas e trabalhos que coloquem em diálogo conhecimentos brotados de diferentes áreas, e até aqui estamos no melhor dos mundos.

Mas ali também se lê que a SEC deseja que no futuro qualquer professor seja capaz de lecionar qualquer das disciplinas da área a que pertence sua especialidade, e aqui estamos no proverbial mato sem cachorro.

Eu, professor de Literatura, deverei saber dar aulas, por exemplo, de Educação Física, disciplinas da mesma área de, hum, “linguagens”? E o que dizer da promessa de haver concurso para professores exigindo conhecimentos de todas as disciplinas das áreas? Me ocorre chamar tal proposta de tola, mas talvez seja muito mais duro o qualificativo adequado.

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