sexta-feira, 2 de novembro de 2007


ELIANE CANTANHÊDE

A Copa vai, e o que fica?

BRASÍLIA - Não precisa ir longe. Basta conversar alguns minutos com um diplomata, empresário ou consultor europeu para saber exatamente o que preocupa os gringos que pensam em investir no Brasil: pela ordem, a violência urbana, a corrupção corporativa e a infra-estrutura defasada.

A violência é isso que todo mundo sabe e muitos sofrem nas grandes capitais, com traficantes armados até os dentes, polícia corrupta e balas perdidas atingindo até crianças dentro de escolas. A corrupção é de cima abaixo.

Antes, o foco era no corrompido, ou seja, nos governos e nos parlamentos. Agora, é também no corruptor: toda hora uma Gautama e uma Cisco caem na rede.

E a infra-estrutura? Aeroportos congestionados, estradas esburacadas, a ameaça de desabastecimento de energia. Não é só porque Evo Morales é bonzinho que a Petrobras decidiu reinvestir na exploração de gás na Bolívia, apesar dos ataques malcriados feitos contra a empresa brasileira.

Bancos põem e tiram grandes volumes de dinheiro num país da noite para o dia, mas o horizonte das corporações é de 15, 20 anos.

Não querem nem pensar em seus altos executivos baleados no Rio ou seqüestrados em São Paulo, menos ainda em manchetes ligando suas marcas a maracutaias ou desperdícios por falta de infra-estrutura.

Essa discussão é pertinente, sobretudo agora, pois a Copa vem aí.

O Brasil vai gastar fortunas como anfitrião e precisa deixar claro como, onde e por quê. Se for em estádios e empreendimentos privados, que a população entenda o custo-benefício -o que tem interesse público, o que vai ou não reverter para a sociedade durante e depois.

Ter a Copa no país é uma delícia, mas ela deve se adaptar às prioridades do país, não as prioridades do país a ela. E 2014 não vai ser um ano qualquer. Vai ter eleição presidencial, com Lula candidatíssimo.

elianec@uol.com.br

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