segunda-feira, 6 de abril de 2020



06 DE ABRIL DE 2020
CORONAVÍRUS

Um inimigo chamado inverno

Para infectologistas, baixas temperaturas no Rio Grande do Sul serão um desafio extra na luta contra a pandemia de covid-19. A covid-19 surgiu e se espalhou durante inverno rigoroso do hemisfério norte. Começou pela Ásia, alastrou-se em regiões da Europa e agora ganha força nos Estados Unidos, na América do Norte. Com base no cenário já registrado em outros países, infectologistas apostam que as baixas temperaturas previstas para os próximos meses serão um inimigo a mais na luta contra o coronavírus no Rio Grande do Sul.

Autoridades que lideram o enfrentamento da pandemia no Brasil reconhecem esse risco. Desde a confirmação do primeiro caso no país, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, demonstra preocupação extra com o panorama que aguarda os gaúchos: inverno mais intenso do que no resto do país e histórico de aumento de doenças respiratórias no período.

Em entrevista à rádio Jovem Pan na quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro também destacou que a situação do Rio Grande do Sul em meio à pandemia é diferente da dos demais Estados brasileiros.

- O Rio Grande do Sul é um caso à parte. Lá, o clima é mais frio. A minha preocupação é quando chegar o inverno (...). Quando eles forem liberados dessa quarentena, vão contaminar muita gente numa velocidade enorme - afirmou.

Chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz afirma que é questão de tempo para aumentar a quantidade de pessoas que precisarão de atendimento hospitalar de alta complexidade:

- Não sabemos se esse vírus conhece bem os limites de temperatura e quais os limites que ele tolera. Mas os países que tiveram picos até o momento estavam no inverno. Se trouxermos para cá esses dados, podemos esperar também dados ruins para o RS. Se o frio será um combustível a mais, só podemos inferir isso baseado nas informações de outros países. No melhor dos cenários, a coisa ainda será triste.

Cuidados

Quando os ponteiros dos termômetros baixarem, a melhor forma de evitar o vírus será reforçando, ao máximo, as medidas que já são indicadas pelos técnicos de saúde e adotadas por muitos gaúchos: isolamento social e restrição de movimentação. Outra orientação, reforça Sprinz, é manter o ar renovado dentro de casa para evitar a circulação do vírus:

- Se começar a fechar a janela e evitar que o ar se renove no ambiente, mais concentrado o ar fica. Se tiver alguém que teve contato com o vírus na casa, a chance de contágio é maior.

Internações

A demanda por atendimento de pacientes com covid-19, que por si só já tem potencial para sobrecarregar o sistema de saúde, será somada à demanda habitual por atendimento ligado às doenças respiratórias, que naturalmente aumentam durante o inverno no Sul, pontua o diretor de Atenção Hospitalar e Urgência da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, João Marcelo Lopes Fonseca. O médico explica que, no caso da Capital, a necessidade por internação nessa época cresce especialmente nos leitos pediátricos:

- O cenário dos leitos para crianças vai de oito a 80. Passo o ano inteiro com demanda bem tranquila e no inverno aumenta bastante. Idosos, adultos tabagistas ou com doenças pulmonares também internam com muito mais frequência no inverno.

Na visão de Fonseca, porém, dois fatores poderão ser favoráveis ao enfrentamento do coronavírus no inverno gaúcho. O primeiro é a antecipação da vacinação contra H1N1, iniciada no final de março em idosos e profissionais de saúde. Com a covid-19 se espalhando, a procura pelas doses foi maior, e o número de imunizados já nesta época do ano cresceu em relação a períodos anteriores. O outro é a consciência da população com hábitos de etiqueta e higiene, como a necessidade de lavagem de mãos e o risco da transmissão por gotículas e espirros.

- As precauções da covid-19 funcionam para evitar outras doenças que se proliferam no inverno. A população está muito mais consciente - avalia.

Um dos grandes desafios que se tem pela frente com a chegada das temperaturas mais baixas, sinaliza Fonseca, é o de que os picos de contaminação de coronavírus e os das doenças respiratórias do inverno não se somem ao mesmo tempo:

- Todos os anos, nos preparamos para o inverno, com o aumento das internações. Este ano, também teremos a covid-19.

JENIFFER GULARTE

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