quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020


19 DE FEVEREIRO DE 2020
NÍLSON SOUZA

Ajayô!


Eu viro minha cadeira para Carlinhos Brown. Mais do que um artista consagrado, reconhecido e premiado por seu trabalho musical, o cantor baiano vem se revelando um educador exemplar no trato com crianças e adolescentes que participam do programa The Voice Kids, da Rede Globo. É verdade que todos os técnicos escolhidos pela emissora (o próprio Carlinhos, Claudia Leitte e a dupla Simone & Simaria) são cuidadosos e sensíveis com os jovens cantores confrontados pelo desafio de se apresentar num palco global e de enfrentar nervosismo, euforia e frustração. Mas o campeão da empatia é Brown.

Atento e articulado, ele sempre encontra um jeito de incentivar meninos e meninas pilhados pela ansiedade. Com argumentos sensatos e ao mesmo tempo poéticos, sempre estimuladores, o baiano contorna situações constrangedoras e até dolorosas, como a eliminação de candidatos sem maturidade suficiente para suportar a decepção. Nessas ocasiões, não é raro que ele se levante de sua cadeira e leve até a criança o gesto que vale mais do que todas as palavras - um abraço solidário.

Brown também é mestre na arte de conquistar a cumplicidade do público. Sua longa experiência de shows, que inclui o célebre incidente do Rock in Rio de 2001, quando foi expulso do palco com xingamentos, pedradas e garrafadas por roqueiros e metaleiros que esperavam bandas internacionais, consolidou sua personalidade de artista compreensivo e tolerante. Mesmo naquela ocasião, saiu de cena ostentando uma pequena bandeira com a inscrição "Paz no Mundo".

Pois esse artista da paz e da alegria, que mantém projetos sociais para jovens carentes do bairro pobre de Salvador onde nasceu, pode ser também uma inspiração para pais e educadores que tratam diariamente com crianças e adolescentes, sejam elas talentosas, como as que se apresentam no concurso musical, ou anônimas, nos seus desafios diários de estudar, se relacionar com colegas e encarar os desafios do amadurecimento. Ouvir, compreender e estimular para a vida são valores implícitos no grito adotado pelo baiano, que também pode significar axé, bem-vindo, um desejo de paz ou qualquer outra saudação positiva.

Um "ajayô!", acompanhado de abraço, transforma lágrimas em sorrisos e ensina que os verdadeiros vencedores são aqueles que não desistem.

NÍLSON SOUZA

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