sábado, 15 de fevereiro de 2020


15 DE FEVEREIRO DE 2020
CONSTANTINO

Indignação seletiva


A classe jornalística se uniu na última semana para prestar solidariedade a Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, que foi acusada pelo depoente da CPI das Fake News de ter oferecido sexo em troca de uma reportagem. A acusação, que contou com o respaldo do filho do presidente, denota extrema baixeza, especialmente por carecer de evidências, que na verdade apontam na direção contrária - o sujeito convidou a jornalista para um encontro, e ela saiu pela tangente.

A revolta, portanto, é legítima. O que, desnecessário dizer, não significa que a jornalista em questão seja um exemplo de imparcialidade. Ela é autora de uma reportagem de 2014 enaltecendo, por exemplo, o porto de Mariel em Cuba, e já confessou ser de esquerda e ter votado sempre no PT. Sua reportagem em foco na CPI se mostrou um tanto enviesada também, até porque a fonte, justamente o depoente, admitiu que disparou mensagens para o PT, não para Bolsonaro, que foi o destaque da chamada.

Não importa muito, no caso, a visão política da jornalista: o golpe baixo precisa ser denunciado e ponto. Há limites que não podem ser cruzados, onde acaba a civilização e começa a barbárie. Não vale tudo para detonar a reputação de adversários políticos. A Folha declarou guerra ao governo Bolsonaro, mas isso não dá o direito ao filho Eduardo de descer o nível desse jeito. A reação, em que pese a cortina de fumaça sobre o essencial, que foi a confissão de que o sujeito agia para o PT, é compreensível.

O que não é aceitável, porém, é a seletividade da indignação. Ela é perneta, e pula só com a esquerda. Quando Dora Kramer foi atacada de forma abjeta por Renan Calheiros, não vimos o mesmo espírito de corpo, e Rodrigo Maia não saiu da toca para repudiar a "difamação" e o "sexismo", como fez agora. Quando o ator José de Abreu fez insinuações asquerosas sobre Regina Duarte, tampouco vimos a mesma revolta.

E para não falar só de mulheres como alvo, quando o deputado do PSOL Glauber Braga chamou Sergio Moro de "capanga de milícia", houve um profundo silêncio. Um décimo da indignação já estava de bom tamanho! Mas sabemos que, no fundo, muitos jornalistas concordam é com o desqualificado comunista, o que explica a baixa credibilidade de parte da mídia...

RODRIGO CONSTANTINO

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