sábado, 14 de setembro de 2019


14 DE SETEMBRO DE 2019
DUAS VISÕES

Uma necessidade imediata


A venda de ações do Banrisul, até o limite necessário para o governo do Estado manter o controle da instituição, motivou alguns questionamentos quanto à conveniência da operação e ao futuro do banco.

Alega-se que, ao diluir sua participação societária, sem a privatização, o governo estaria abrindo mão de valores muito mais elevados do que os cerca de R$ 2 bilhões que pretende arrecadar com a movimentação neste momento. Isso porque, quando se vende o controle de uma empresa, os compradores estão dispostos a pagar um preço mais elevado (o prêmio de controle) pelas ações. Dessa feita, seria melhor privatizar o banco.

O argumento tem pertinência, se considerado exclusivamente sob a ótica de um mero investidor, cujo único objetivo é o de maximizar o valor de suas ações e aumentar seus dividendos. Ocorre que o governo do Estado não é um mero investidor: ele toma decisões no contexto de um conjunto de responsabilidades atreladas à promoção do bem comum de todos os gaúchos. E essa responsabilidade não pode ser ignorada ou diminuída, pois ela está relacionada com a vida real das pessoas.

Há uma grave crise nas finanças estaduais, que impede o Tesouro de honrar até mesmo obrigações básicas, como a folha de pagamento. Isso impõe ao governo que atue com os meios hoje à sua disposição para tentar minorar os efeitos desta crise. Infelizmente, as circunstâncias adversas não permitem aguardar por uma futura, e politicamente incerta, privatização do Banrisul. O bem comum deve ser buscado concretamente, para atender às necessidades dos cidadãos no presente. As pessoas têm necessidades imediatas, que afetam agora sua vida e sua dignidade. O povo está cansado de esperar.

Cabe, também, relembrar que a privatização do banco foi inequivocamente rejeitada pelas urnas no pleito de 2018: o candidato que a propunha não recebeu mais do que 200 mil votos. Um governo democrático precisa, claro, levar em conta esse indicativo. Contrariá-lo colocaria em risco o capital político radicado nos 3,1 milhões de votos recebidos pelo governador Eduardo Leite. Esse capital é fundamental para impulsionar as reformas estruturais no Estado (como a da previdência e a das carreiras do funcionalismo), que, hoje, são mais importantes para o nosso futuro do que a hipotética privatização do Banrisul.

MATEUS WESP

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