quarta-feira, 18 de setembro de 2019



18 DE SETEMBRO DE 2019

FÁBIO PRIKLADNICKI


O guitarrista mais rápido da nossa adolescência


Aquele que seria meu segundo professor de guitarra não me ensinou nada: por algum motivo que não fiquei sabendo, ele deixou de dar aula na escola de música onde eu havia me matriculado. Mas jamais me esqueci da única conversa que tivemos.

Ele perguntou que tipo de música eu ouvia. Respondi que gostava de heavy metal. Foi então que ele colocou nos meus ouvidos uns fones dos quais espirrava em alto volume um solo de guitarra endiabrado tocado sobre uma base pesadíssima. Não reconheci. "Malmsteen", ele informou, não como quem repreende pela ignorância, mas como quem mostra o caminho da luz. Pensando bem, talvez eu tenha aprendido algo com ele.

Foi a primeira vez que ouvi falar de Malmsteen. Achava que era uma banda. Tratava-se, descobri depois, de um dos mais venerados guitarristas de metal do mundo, o sueco Yngwie Malmsteen, conhecido tanto pela velocidade de suas notas quanto pela soberba de sua personalidade. Afinal, ele tinha a palhetada mais rápida de que se sabia.

Alguns ouvintes podem identificar certo exibicionismo nos solos de Malmsteen, que aparecem no início, no meio e no fim das músicas. Mas, quando se é jovem, isso é tudo de que se precisa. O que se quer é debulhar a guitarra exatamente como ele para impressionar as garotas, ou melhor, para achar que impressiona as garotas, pois a maioria dos que admiravam mesmo eram os outros caras.

Clássicos como Pictures of Home, do Deep Purple, e Carry on Wayward Son, do Kansas, eu os ouvi antes na versão de Malmsteen. Achava natural que ele preenchesse cada mísero compasso com uma pequena demonstração gratuita de habilidade. Sua melhor forma, ao meu gosto, aparecia nas instrumentais Black Star e Far Beyond the Sun, nas quais conseguia a façanha de contar histórias épicas com os dedos.

Os fãs se deliciavam com cada detalhe técnico de sua guitarra (Fender Stratocaster cor creme), técnica de palhetada (sweep picking) e inspirações (Ritchie Blackmore e J.S. Bach). Bons tempos aqueles, dos heróis da guitarra. Hoje, é impossível ouvir Malmsteen e não ser transportado mentalmente para os anos 1980 e 90. Muita banda de metal nem se importa mais com solos de guitarra, e alguns fãs tampouco. Mas quem curtiu Malmsteen na adolescência, suspeito eu, sempre acaba voltando de vez em quando para ouvir de novo. Virou a música de uma época, a nossa época.

FÁBIO PRIKLADNICKI

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