sábado, 4 de janeiro de 2020


04 DE JANEIRO DE 2020
INFORME ESPECIAL

Eva Sopher vira personagem de livro escrito por sua neta


Ela fez o caminho inverso da avó. Letícia Sopher Pereyron, 39 anos, saiu do Rio Grande do Sul e atravessou o mundo. Viveu em Londres, na Filadélfia e, atualmente, mora em Sidney, na Austrália, com o marido e seus dois filhos. Nas suas andanças, conheceu mulheres que mereceriam um livro. Foi o que ela fez.

O lançamento de Mulheres e suas bagagens, da Artêra Editorial, será no dia 22 de janeiro, no Theatro São Pedro. Lá, na entrada da plateia, uma das personagens estará, pelo menos em espírito, acompanhando tudo. O capítulo dedicado à Eva Sopher conta a história de duas amigas judias perseguidas pelo nazismo. Uma conseguiu sair da Alemanha - Dona Eva. A outra, não. Além dessa, há histórias de inglesas, americanas, argentinas e uruguaias, todas com "vidas curiosamente interessantes".

Letícia é professora universitária, especialista em linguística e filha de Ruth - que faz pelo Theatro Treze de Maio, em Santa Maria, o que a avó, Eva, fez pelo São Pedro. Desafiada a descrevê-la em poucas palavras, nem precisou pensar: "Sabedoria, simplicidade e honestidade". A autora se considera parecida com a avó, especialmente na forma direta de dizer o que pensa.

Eva Sopher nasceu em Frankfurt, em 1923. Com a ascensão do nazismo, foi obrigada a emigrar para o Brasil aos 13 anos. Depois de passar pelo Rio de Janeiro, chegou a Porto Alegre em 1960. Na capital gaúcha, comandou com voz e mãos fortes a restauração do Theatro São Pedro que, em ruínas, foi salvo por ela da demolição.

Descartes

Li, sem sobressaltos, as notícias sobre as toneladas de lixo deixadas em Porto Alegre e no Cassino durante as festas de fim de ano. Tempos atrás, o dedos estariam apontados para as prefeituras. "Faltam lixeiras", eu diria, cheio de razão. As coisas mudaram, ainda bem.

Durante as Olimpíadas de Londres, em 2012, comprei uma garrafa plástica de água enquanto andava pela rua. Terminei de beber e passei a procurar um local apropriado para descartá-la.

Andei várias quadras, na região central da cidade. Nada. Concluí que era pelo medo do terrorismo. Uma bomba poderia ser colocada em uma lixeira.

De volta ao hotel, comentei com um amigo britânico. Sem perder a fleuma, ele me explicou que a ausência dos equipamentos tinha, de fato, outras motivações. "Deixemos que cada um cuide do seu lixo", disse. Tudo fez sentido. Compreendi, definitivamente, que o lixo em lugares públicos não é causado pelos governos, mas sim por nós.

Produzir menos lixo e assumir responsabilidade por ele. Esse é o futuro, para que haja um futuro.

TULIO MILMAN

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