18 DE JANEIRO DE 2020
CARTA DO EDITOR
A mina e os gaúchos
Uma das funções cada vez mais necessárias do jornalismo contemporâneo é iluminar cenários dominados pela desinformação e contaminados pelo viés ideológico. É o que tentamos fazer nos veículos do Grupo RBS.
No caderno DOC desta edição (e desde sexta-feira disponível para assinantes de GaúchaZH), temos um bom exemplo desse desafio. Em sete páginas, apresentamos uma extensa reportagem sobre um investimento bilionário em gestação no Rio Grande do Sul. Trata-se da Mina Guaíba, um projeto da empresa Copelmi que prevê a escavação de uma jazida de carvão e a construção de uma estrutura destinada a converter reservas carboníferas em gás sintético natural, fertilizantes e metanol entre os municípios de Charqueadas e Eldorado do Sul. Espécie de polo petroquímico à base de carvão, o empreendimento seria construído a 240 metros de uma área de preservação, a 1,5 quilômetro do Rio Jacuí e a 535 metros do Parque Estadual Delta do Jacuí - um filtro natural que contribui para manter potável a água do Guaíba.
Para investigar o assunto, destacamos Marcelo Gonzatto, 45 anos, repórter talhado para traduzir conteúdos complexos e um dos mais completos jornalistas da Redação Integrada. Lotado na editoria de Notícias, Gonzatto, profissional de ZH há 24 anos, recebeu a seguinte orientação da direção da Redação: usar o tempo necessário para produzir uma reportagem profunda, que contemplasse diferentes pontos de vista e acrescentasse na discussão sobre a pertinência de um investimento que poderá criar até 7 mil empregos e injetar, em duas décadas, R$ 23 bilhões na economia do Estado.
Gonzatto falou com pelo menos 20 pessoas no Brasil, nos EUA e na China ao longo de dois meses. Acessou documentos, produzidos por órgãos governamentais e consultorias privadas e pelo menos 20 pesquisas acadêmicas sobre o tema. Ouviu gestores de instituições públicas, de ONGs e de corporações. Entrevistou pesquisadores, investidores e ambientalistas. Leu relatórios sobre a operação de uma planta industrial da unidade de gaseificação de carvão da usina de Great Plains Synfuels, na cidade de Beulah, em Dakota do Norte, nos EUA, apresentada como referência para o polo carboquímico em materiais de divulgação da Copelmi.
O repórter constatou também que a China, principal parâmetro internacional na gaseificação do carvão, reduziu suas apostas nessa tecnologia nos últimos sete anos por conta de perdas bilionárias, problemas operacionais e denúncias de danos ambientais.
Como ocorre nas grandes reportagens de ZH e GaúchaZH, o texto foi lido e relido pelos principais editores da Redação. Ao todo, houve nove leituras e vários ajustes pontuais para que o relato ficasse preciso, equilibrado e sem adjetivos. É um processo que chamamos, internamente, de "espancamento" do texto levado aos leitores.
O resultado desta investigação jornalística é uma reportagem de fôlego que ata diferentes pontas e, sem a pretensão de esgotar o assunto, apresenta um tema de alta relevância para os gaúchos em toda a sua complexidade. Com "Um debate chamado Mina Guaíba", capa do caderno DOC, cumprimos nossa obrigação de contribuir com o debate público.
CARLOS ETCHICHURY
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