sábado, 18 de janeiro de 2020



18 DE JANEIRO DE 2020
DIÁRIOS DO MUNDO

O plano de Putin para se perpetuar no poder

É saudável o mundo ficar com um pé atrás sempre que Vladimir Vladimirovitch Putin (à direita na foto) anuncia seus planos. Como exímio enxadrista da política, o todo-poderoso czar do Kremlin costuma dar visibilidade apenas a uma parte de suas intenções - com impacto imediato. A outra porção, mantida sob sigilo até de seus mais próximos conselheiros, só se concretiza anos na frente.

Ao que tudo indica, o autoritário presidente russo começa a pavimentar o caminho para a sucessão, dentro de um projeto de poder iniciado em 1999, quando assumiu após a renúncia de Boris Yeltsin. Na quarta-feira, Putin fez uma jogada que surpreendeu boa parte do país - e do mundo - ao propor um referendo para alterar a Constituição, de 1993.

A uma análise apressada, muitos pensaram que ele estaria seguindo a cartilha de seus afilhados políticos Hugo Chávez, Nicolás Maduro e Evo Morales - mexer na Carta Magna para permitir reeleições infinitas. Não. O lance de Putin, é mais complexo, silencioso e à prova de suspeitas. O pulo do gato: a mudança daria mais poder a um órgão que hoje é meramente consultivo - o Conselho de Estado. Acredita-se que, em 2024, quando deixar o Kremlin, Putin almejaria seguir como presidente desta instituição, só que com um órgão vitaminado. Um Conselho de Estado poderoso garante o controle de todo o sistema. Ou seja, Putin sairia do dia a dia do governo, mas manteria-se como a eminência parda do regime.

Putin não dá ponto sem nó. Há 20 anos, aproveita-se do sistema semipresidencialista para mandar e desmandar no país. Entre 2008 e 2012, por exemplo, fez o sucessor, Dimitri Medvedev, mas continuou comandando a nação como um poderoso primeiro-ministro.

Com a habilidade de ex-espião do FSB (antiga KGB), consegue, por baixo dos panos, eliminar adversários sem provocar alarde - até porque a imprensa é censurada no país. Para isso, vale sacrificar aliados, como Medvedev, que renunciou logo após o anúncio, na quarta.

Uma das suspeitas é de que caberá ao primeiro-ministro ser o bode expiatório pelos problemas da economia, que patina abaixo de 2% desde que o país saiu da recessão do biênio 2015-16. A Putin, ficam os méritos, como ter estabilizado o país após a década perdida de 1990, iniciada pelo colapso soviético.

No plano externo, o presidente nunca teve tanta influência. A Rússia voltou a ser a principal força política de oposição aos Estados Unidos - enquanto a China prefere o papel econômico. Com o desengajamento dos americanos do Oriente Médio, Putin consagrou-se como senhor da paz e da guerra. Na Síria, manteve o ditador Bashar al-Assad entronado. No auge da quase guerra entre EUA e o Irã, deu um recado militar aos americanos, fazendo operações no Mar Negro. Mantém boas relações com Israel e Arábia Saudita e atrai a Turquia. Enquanto isso, apesar de o Ocidente espernear, a anexação da Crimeia se consolida silenciosamente.

O primeiro teste dos democratas

Já foram 27 pré-candidatos democratas. Agora, são seis. Mesmo assim, a incerteza impera na oposição a Donald Trump. No próximo dia 3, o caucus (prévia) de Iowa, um pequeno Estado no meio-oeste americano, abre o calendário eleitoral. A cada quatro anos, a região monopoliza as atenções mundiais com seu complexo sistema de votação que serve como primeiro termômetro para os pré-candidatos.

A escolha se encaminha para o enfrentamento entre Joe Biden e Bernie Sanders. O ex-vice-presidente e o senador por Vermont estão empatados tecnicamente no Estado (20,7% contra 20,3%). Em nível nacional, Biden está bem na dianteira (27,2% contra 19,2%). A senadora Elizabeth Warren e o prefeito de South Bend, Indiana, Pete Buttigieg correm por fora (ela tem 16%, ele 7,2%).

Quem defenderá Trump?

As prévias democratas ocorrerão em meio ao processo de impeachment de Donald Trump no Senado. O advogado de celebridade mais famoso dos Estados Unidos, Alan Dershowitz, disse na sexta-feira que fará parte da equipe jurídica que defenderá o presidente. Segundo relatos da mídia americana, outro membro de destaque da equipe será Ken Starr, o promotor especial no julgamento político do ex-presidente democrata Bill Clinton em 1999. Ele é um herói para muitos da direita, apesar de Clinton ter sido absolvido no Senado.

Entre os clientes famosos de Dershowitz, estão o agressor sexual Jeffrey Epstein e o ex-jogador de futebol americano e ator O.J. Simpson.

Protagonismo gaúcho

Gaúchos foram protagonistas da cerimônia de inauguração da nova estação Comandante Ferraz, na quarta-feira, na Antártica. No ato, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Jefferson Simões lançou um balão meteorológico (foto). Também participou do ato inaugural a reitora da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Cleuza Maria Sobral Dias. O vice-presidente Hamilton Mourão e o secretário-geral das Relações Exteriores, Otávio Brandelli, também gaúchos, representaram o presidente Jair Bolsonaro.

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APÓS TENSÃO, OS PROTESTOS

Por dois dias seguidos, estudantes iranianos saíram às ruas em protesto contra o governo e o líder supremo do regime. As manifestações eclodiram após autoridades admitirem ter derrubado o avião comercial ucraniano.

FENÔMENO NAS FILIPINAS

O vulcão Taal, nas Filipinas, expeliu uma enorme massa de cinzas (foto) e acendeu o alerta no país. Milhares de moradores dos arredores de Manila foram obrigados a deixar suas casas. Voos foram cancelados na região.

POLÊMICA NA FAMÍLIA REAL

Após reunião familiar na segunda-feira, a rainha Elizabeth II divulgou comunicado dizendo que concordou com a decisão de seu neto, príncipe Harry, e da mulher dele, Meghan Markle, de serem mais independentes da família real britânica. Fala-se em "período de transição".

PAUSA NA GUERRA LÍBIA

Sem a presença de potências ocidentais, Rússia e Turquia costuraram uma trégua para a guerra civil na Líbia. O acordo, que ainda precisa ser ratificado pelo líder rebelde Khalifa Haftar e nem de longe garante o fim das hostilidades, é uma vitória do presidente Vladimir Putin.

RODRIGO LOPES

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