terça-feira, 21 de janeiro de 2020



21 DE JANEIRO DE 2020

ARTIGOS

O CICLO VIRTUOSO DA PONTUALIDADE

A reunião que demora para começar. A consulta que nunca acontece na hora marcada. O amigo que chega no final da festa. A lista de exemplos da cultura do atraso em nosso cotidiano é infindável. Mas isso não é apenas sobre comportamento e vida privada; é também sobre negócios e práticas comerciais. Muito além dos minutos perdidos, esse vício contamina as relações tanto quanto nossa economia.

Observo essa chaga em minha trajetória no setor público e na iniciativa privada, há décadas participando de encontros e eventos - aqui e no Exterior. Nós, brasileiros, temos uma desvantagem competitiva em relação a países que agem com mais disciplina.

As concessões que fazemos para o atraso acabam por conformar a ideia de que isso é aceitável. Tal comportamento traz implícita uma desconsideração com o outro. Posso parecer rígido demais ao afirmar isso, mas minha experiência de vida comprova: o viciado em impontualidade não é confiável. Não se deve perder tempo com ele.

Muitos culpam a gênese do brasileiro por tudo, o que justificaria o "jeitinho" e outros tantos maus costumes a nós atribuídos. Desculpem-me os conformados, mas essa não é nossa essência. Há um Brasil profundo que dá certo - que avança inclusive com base na pontualidade.

Se o atraso é contagiante, a pontualidade também é. A imagem de profissionalismo de locais como Inglaterra, Japão e Alemanha vem também do respeito aos horários e do histórico de honrar seus compromissos. Um exemplo do efeito dessa reputação é o aeroporto Salgado Filho: mesmo sem conhecer detalhes sobre a vencedora da concessão, muitos gaúchos saudaram o resultado da concorrência pelo simples fato de tratar-se de uma empresa alemã. E, de fato, foi!

Para que o círculo virtuoso da pontualidade traga ao Brasil os frutos colhidos por outras nações, é preciso valorizá-la das pequenas às grandes coisas. Valorizar essa qualidade significa elevar nossos valores. E compreender que, com respeito aos outros, podemos fazer um país muito maior e mais forte.

Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), ex-ministro da Agricultura 
FRANCISCO TURRA

Nenhum comentário: