15 DE JANEIRO DE 2020
NÍLSON SOUZA
Adoção de idosos
Somos 60 milhões de brasileiros os que já passamos a barreira dos 60 anos e que recebemos da legislação e dos meios de comunicação em geral o tratamento (des) respeitoso de idosos. Trata-se de uma palavrinha dolorida, como sabem os que jogam neste time de veteranos. Idoso, por definição, significa pessoa velha, com muita idade. Seus sinônimos mais conhecidos são ainda piores: ancião, velho, anoso, antigo, longevo, senil, decrépito, caduco e por aí vai. Pois esses homens e mulheres experientes, muitos ainda ativos e produtivos, estão correndo o risco de passar por outro constrangimento além dos preconceitos a que já são rotineiramente submetidos: o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos planeja apresentar ao Congresso uma proposta para estimular a adoção de idosos no país. Vade retro! Não quero ser adotado nem pela Angelina Jolie.
De boas intenções, os ministérios estão cheios. Claro que há uma ideia generosa por trás dessa iniciativa: assegurar acolhimento e proteção para pessoas necessitadas, muitas delas abandonadas por suas famílias biológicas ou depositadas em asilos precários. O governo precisa mesmo se preocupar e desenvolver políticas públicas para essa população que cresce geometricamente. Em breve, segundo os pesquisadores, o país terá mais idosos do que jovens.
Mas, a não ser em casos excepcionais de solidariedade desinteressada, dificilmente alguma família vai aceitar um vovô ou uma vovó sem laços sanguíneos. O risco desse programa de adoções, caso se concretize, é despertar a cobiça de alguns indivíduos, como já acontece com o Senhor Mercado em relação ao segmento populacional que os marqueteiros convencionaram chamar de 60+. Ao perceber que os aposentados têm renda assegurada neste país de crises e desempregos, os setores produtivos voltaram suas atenções para a longevidade. Por evidente interesse.
No caso da adoção, a perspectiva é a mesma. Se o idoso tiver posses, estas serão adotadas com ele pela nova família? Quem fica com a herança? Os filhos? Os parentes biológicos? Os tutores? Quem vai fiscalizar no interior dos lares se o adotado está sendo bem tratado?
Enquanto essas questões não tiverem resposta satisfatória, talvez seja melhor revisar os limites da terceira idade e investir em instituições que efetivamente ofereçam segurança e bem-estar aos necessitados. Em princípio, vejo com desconfiança a proposta governamental. Mas, se a Angelina Jolie reabrir o seu processo de adoções, talvez eu também revise minha posição.
NÍLSON SOUZA
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