25 DE JANEIRO DE 2020
INFORME ESPECIAL
Dona Tereza
Vi Dona Tereza pela última vez no teatro. Sentada numa fila lá detrás, ao lado da filha Sissi, esposa do Zé. Não havia na plateia ninguém parecido com a Dona Tereza. Franzina e forte, vestido floreado, carregava em seus 102 anos lucidez e energia incomuns.
Conheci Dona Tereza no século passado. Eu sempre me surpreendia como, com mais de 90, ela subia e descia escadas sozinha, passos seguros. Me espantava com a força do seu aperto de mão, com sua voz firme e com o arroz de leite, receita do Alegrete, que preparava quando era aniversário de alguém ou em outra data especial.
Dona Tereza era sogra do Zé Victor Castiel. Moraram 30 anos na mesma casa. O Zé sempre sonhou com uma família assim: a esposa, as crianças, ele, a vó e o cachorro. Até que Dona Tereza, pertinho dos 100, já não subia e descia escadas sem corrimão e sem ajuda. Foi quando ela se mudou.
O lugar que a acolheu era dos melhores. Dona Tereza continuava a conviver com a família, nos churrascos de fim de semana e nas constantes visitas que fazia e recebia. Logo se adaptou ao novo espaço. Sagrou-se, com mérito e justiça, campeã de videogame da clínica de repouso.
Há uns dois anos, Dona Tereza deu um susto. No dia seguinte, recebi uma foto dela, firme, cozinhando para as amigas. "Kkkkk, olha a vó depois do AVC", foi o comentário do Zé. Ele e a Dona Tereza brincavam com tudo, até com a morte. Dona Tereza se queixava, de vez em quando, disso e daquilo. O Zé, que não perde viagem, respondia: "A senhora fique bem à vontade...". Ela o xingava, carinhosa, e todo mundo ria.
Sábado passado encontrei, no teatro, a Dona Tereza. Vestido floreado, ao lado da filha. No fim do espetáculo o Zé, do palco, tomou a palavra e disse: "Dedico essa peça à minha sogra...". A plateia, achando que era mais uma piada, caiu na gargalhada. O Zé insistiu: "É sério, minha sogra, a Dona Tereza, 102 anos, está ali". As pessoas viram que era verdade e aplaudiram - um aplauso longo e emocionado. Dona Tereza levantou a mãozinha, quase tímida, agradecida e feliz.
Então, na segunda, menos de dois dias depois, Dona Tereza se sentiu um pouco indisposta. Melhorou em seguida mas, mesmo assim, decidiu se deitar. A enfermeira, atenta, perguntou como ela se sentia. "Estou bem", respondeu. Virou para o lado, fechou os olhos e não mais os abriu.
Na terça, o velório teve abraços e risos e lágrimas e histórias. "Foi lindo o que aconteceu no sábado, ela recebeu aquele carinho todo, partiu sem sofrer, aos 102, isso é uma bênção", eu disse. Então a Sissi fez a frase que deu sentido definitivo a esse enredo de final simples e, por isso, grandioso: "Foi aplaudida... e saiu de cena".
Na capela N do São Miguel e Almas, serena e rodeada por flores, Dona Tereza descansava com o mesmo vestidinho estampado escolhido para ir ao teatro hoje vazio, mas onde as palmas ainda ecoam.
POR QUE BOLSONARO TENTA ESFRIAR MORO
A política se move pela lógica do poder. Ao tentar esfriar Sérgio Moro, o criador impede que a criatura se volte contra ele. As pesquisas mostram que o Ministro da Justiça e da Segurança é mais popular do que o seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro, que sonha com a reeleição. A julgar pelo cenário de hoje, o maior adversários desse sonho não é Lula, nem o PT, nem Luciano Huck. O inimigo potencial está na própria trincheira.
Não é a primeira vez em que Bolsonaro cutuca Moro. E nem a última. Teoricamente, o melhor dos mundos para o presidente é a permanência do ministro no governo, mas com menos visibilidade.
Em nenhum momento o ex-juiz da Lava-Jato autorizou vincular o seu nome a uma candidatura ao Planalto. Mas essa é uma decisão a ser tomada lá na frente, em 2022. Bolsonaro sabe disso. Preventivamente, trabalha para esfriar seu ministro mais popular. Esfriar não é congelar. Nem fritar. Nesse caso, vale a velha máxima. A diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
601
é o número de famílias auxiliadas pelas doações de bens e utensílios domésticos pelo Mensageiro da Caridade na Região Metropolitana, entre janeiro e outubro de 2019. "Os mais pobres sempre são os mais afetados por catástrofes naturais ou agravamento das condições socioeconômicas", lembra Luís Carlos Campos, diretor da Cáritas Arquidiocesana, Secretariado de Ação Social da Arquidiocese de Porto Alegre. Interessados em doar: (51) 3223-2555.
PENALIDADE
O Tribunal de Justiça do Estado, através da sua 5ª Câmara Cível, decidiu, durante a semana, que o dono de um imóvel que teve uma vidraça quebrada por uma bolinha de golfe vinda do Country Club não tem direito a indenização por dano moral.
Os prejuízos materiais foram reparados pelo clube. Relator do acórdão, o desembargador Jorge Luiz Lopes do Canto afirmou: "Não foi demonstrado que o evento narrado na inicial transbordou a esfera do mero dissabor do dia a dia, atingindo o equilíbrio psicológico da parte autora, cuja casa foi atingida em razão da prática desportiva".
Não fui eu. Dessa vez.
INFORME ESPECIAL
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