segunda-feira, 27 de janeiro de 2020


27 DE JANEIRO DE 2020
CLÁUDIA LAITANO

Em defesa do Capitólio


Sabe um negócio público que funciona bem em Porto Alegre? A Cinemateca Capitólio. Sabe um negócio público que funciona bem em Porto Alegre, mas corre o risco de desandar nos próximo meses? A Cinemateca Capitólio.

Se eu fosse prefeita de Porto Alegre, olharia para aquela pequena joia instalada há quase cem anos na esquina da Borges com a Demétrio Ribeiro e pensaria, aliviada: eis um problema a menos para resolver nesta cidade. Infelizmente, nem todo mundo pensa assim. Está em debate, desde o ano passado, um projeto de "contratualização" da cinemateca. O edital deve ser lançado em fevereiro. Na prática, significa que a prefeitura está buscando um parceiro para administrar a instituição.

Não sou contra parcerias do poder público com a iniciativa privada ou com OSCs (organizações da sociedade civil) na área da Cultura. Pelo contrário. Há alguns casos em que a gestão terceirizada ajuda orquestras, museus e grandes teatros a desempenharem melhor a função à qual se destinam. É o caso do Auditório Araújo Vianna, por exemplo, que se tornou um equipamento cultural muito mais vibrante e eficiente depois que passou a contar com os recursos e a administração de uma gestora privada.

A situação da Cinemateca Capitólio é um pouco diferente. Para começar, é um equipamento bem mais enxuto, administrado até aqui por funcionários municipais que entendem, como poucos, do riscado. Desde a reinauguração, em 2015, o Capitólio tem oferecido uma programação de primeira, com ciclos de cinema, debates, pequenos concertos, exposições. Essa é a parte que aparece, agrada o público e revitaliza o Centro Histórico. Mas a cinemateca é também guardiã de um acervo audiovisual com centenas de filmes, e sua equipe trabalha diligentemente na recuperação e conservação desse material tão frágil quanto precioso.

Uma gestão terceirizada tomaria conta desse acervo público com o mesmo cuidado e rigor ou essa parte ficaria de fora do acordo? Se ficar de fora, qual o sentido de haver uma administração para o cinema e outra para o acervo? Qual a garantia de que a qualidade e variedade da programação seriam mantidas? Qual a vantagem de terceirizar a administração se os recursos para a futura gestora continuariam a sair dos cofres do município e talvez resultassem em mais despesas para a prefeitura e não menos? Para a Associação dos Amigos do Capitólio e todos aqueles que amam a cinemateca exatamente do jeito que ela é agora, nada disso está muito claro.

Sugestão para o secretário de Parcerias Estratégicas de Porto Alegre, Thiago Ribeiro, que está propondo a contratualização da Cinemateca Capitólio: apresente argumentos mais convincentes ou não mexa em time que está ganhando.

CLÁUDIA LAITANO

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