terça-feira, 6 de agosto de 2019


06 DE AGOSTO DE 2019
+ ECONOMIA

Tiro no pé de Trump abre nova guerra


O que foi concebido como estratégia do presidente Donald Trump para pressionar a China na disputa comercial travada com os Estados Unidos virou um tiro no pé. Depois que Trump decidiu cobrar mais 10% de sobretaxa sobre a importação do grupo de produtos chineses nos EUA que soma US$ 300 bilhões anuais, os chineses reagiram à sua maneira: desvalorizaram a moeda nacional.

Pela primeira vez em mais de uma década, o yuan foi negociado ontem acima de US$ 7, e alcançou 7,0391. Equivale a uma desvalorização de 5% em relação à máxima de fevereiro, quando a moeda chinesa valia 6,6862. É bom lembrar que a moeda chinesa não segue o princípio da livre flutuação, como o real. É fortemente impactado por decisões governamentais. Imediatamente, Trump acusou a China de manipulação do câmbio, o que desestabilizou os mercados em todo o mundo.

No Brasil, a bolsa passou boa parte do dia operando abaixo dos 100 mil pontos atingidos em 18 de março. No final da sessão, porém, conseguiu, por um triz, suavizar a queda e resgatar esse nível. Fechou em 100.097 pontos, mas com queda de 2,51%, alta até para o padrão locais de volatilidade.

O mercado de câmbio no Brasil também reagiu com intensidade, registrando a maior alta diária dos últimos quatro meses, de 1,69%, que levou a moeda americana outra vez para perto de R$ 4. A cotação de encerramento do dólar ontem foi de R$ 3,957.

Com a desvalorização da moeda chinesa, o país recupera parte da competitividade que seria retirada pela sobretaxa às importações imposta por Trump. O resultado é que o temor global, agora, não é mais apenas de uma guerra comercial envolvendo as duas maiores potências do planeta, que já provocava.

O novo alvo da batalha é o mercado de câmbio, que embute riscos ainda maiores e com efeito contágio mais rápido, como se viu ontem, primeira segunda-feira de agosto, mês marcado por dissabores no Brasil.

A outra retaliação da China, a suspensão de compra de produtos agrícolas americanos, até abre oportunidade para o Brasil, segundo maior fornecedor nessa área. Mas as ameaças em outros segmentos são incomparavelmente maiores. A China é o maior mercado de exportação para vários países, como o Brasil. Com a moeda desse cliente ao sabor de uma batalha, o futuro fica mais incerto para todos.

MARTA SFREDO

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