06 DE AGOSTO DE 2019
TURBULÊNCIA GLOBAL
Disputa eleva risco de guerra cambial
Conflito comercial entre EUA e China derruba mercados pelo mundo. No Brasil, bolsa cai 2,51% e dólar avança para R$ 3,957
A China permitiu que o yuan, a moeda do país, se desvalorizasse para o menor patamar desde 2008, em revide ao governo americano que confirma nova escalada da guerra comercial travada há mais de um ano entre os países. O agravamento da crise disseminou perdas pelos mercados financeiros globais e fez com que o dólar se valorizasse ontem ante as principais moedas emergentes.
Com o Brasil não foi diferente: a B3, a bolsa brasileira, quase perdeu o patamar de 100 mil pontos, atingido pela primeira vez em 19 de junho, e fechou a 100.097 pontos após tombo de 2,51%. Durante o pior momento do dia, o índice recuou 3%, a 99.630 pon- tos. O giro financeiro foi de R$ 17,937 bilhões, acima da média diária para o ano. O dólar avançou 1,69% e encerrou a R$ 3,9572, maior cotação desde 30 de maio, quando a moeda bateu R$ 3,98.
A depreciação do yuan pode gerar uma guerra cambial, já que a China se beneficia de uma moeda mais fraca em suas exportações, além de ser um instrumento de revide aos EUA. O banco central chinês definiu o ponto médio diário de um dólar em 6,9225 yuans antes de o mercado abrir. O dólar terminou a sessão chinesa em 7,0352 yuans, nível mais fraco desde março de 2008.
A medida vem após o presidente Donald Trump ter anunciado, quinta-feira, que irá taxar, em 10%, US$ 300 bilhões de bens chineses. Ele justificou a iniciativa ao acusar a China de não honrar compromissos agrícolas definidos nas negociações. O governo do país asiático informou que a fala de Trump é "sem fundamento".
Contaminação
Com a piora das relações entre os países, a aversão a risco se alastrou pelos mercados e derrubou diversas bolsas - a queda mais expressiva foi nos Estados Unidos e seus três principais índices - Nyse, S&P e Nasdaq - tiveram a pior sessão do ano (confira tabela).
Segundo analistas, o anúncio de Trump de novas tarifas aos chineses é um instrumento de pressão ao Fed, banco central americano, para que a instituição faça novos cortes de juros. Ontem, o líder americano, inclusive, cobrou resposta do Fed frente à desvalorização do yuan. Na quarta-feira, a taxa básica de juro americana foi reduzida em 0,25 ponto percentual.
"Se os Estados Unidos e a China insistirem nesse caminho de retaliação incremental, a economia mundial entraria em recessão em 2020. A bolsa americana testaria as baixas de 2018 e as moedas de mercados emergentes sofreriam nesse contexto. Se esse ambiente agressivo de guerra comercial persistir, esperaríamos cortes de juros do Fed de 125 pontos-base (1,25 ponto percentual) até o final do ano de 2020", afirma a XP Investimentos em relatório.
As commodities também foram impactadas pelo receio de desaceleração da economia. O minério de ferro recuou 4,86%, a US$ 100,55 a tonelada, menor patamar desde junho. As ações da Vale acompanharam e cederam 3,84%, a R$ 46. O barril de petróleo Brent caiu 3%, a US$ 59,97, também o menor valor desde junho. As ações preferenciais, mais negociadas, da Petrobras recuaram 3,65%, a R$ 25,55. As ordinárias, com direito a voto, cederam 4,14%, a R$ 28.
A aversão a emergentes levou o risco-país do Brasil medido pelo CDS (Credit Defaut Swap), espécie de seguro contra calote, a disparar 8,6% a 143 pontos-base, patamar anterior à aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno.
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