terça-feira, 4 de julho de 2017

Jacaré na jaula

Evaristo Sa -15.jun.2016/AFP
(FILES) This file photo taken on June 15, 2016 shows then Brazilian acting President Michel Temer (R) and the General Secretary of the Brazilian Presidency Geddel Vieira Lima speaking during a meeting with party leaders of the National Congress at Planalto Palace in Brasilia. Vieira Lima resigned on November 25, 2016 amid a political crisis in Brazil. Brazilian President Michel Temer denied Thursday having "prompting" any of his ministers to take a decision that would "hurt his convictions", after former Brazilian Culture Minister Marcelo Calero declared having been put pressure on a case about real estate interests. / AFP PHOTO / EVARISTO SA ORG XMIT: ESA1252
Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo, e o presidente Michel Temer
BRASÍLIA - Não durou três dias o alívio do governo com a libertação do deputado da mala. No sábado, o Planalto festejou a soltura de Rodrigo Rocha Loures. Na segunda, voltou a se assustar com outra prisão: a do ex-ministro Geddel Vieira Lima.

O peemedebista é um dos aliados mais próximos de Michel Temer. Os dois atuam em parceria desde a década de 90, quando viraram colegas na bancada do PMDB na Câmara. No ano passado, Geddel estava sem mandato e voltou a Brasília para ajudar a aprovar o impeachment. Foi recompensado com o posto de ministro da Secretaria de Governo.

O articulador caiu em novembro, acusado de usar o cargo para liberar a construção de um espigão em área tombada de Salvador. Na carta de demissão, descreveu Temer como um presidente "sério, ético e afável" e o chamou de "fraterno amigo".

Oito meses depois, essa fraternidade começará a ser posta à prova. Solto, Geddel já era visto como um delator em potencial. Preso, ficará mais perto de agravar os problemas do presidente. Ele é conhecido por ter pavio curto e falar demais —duas características apavorantes para quem depende do seu silêncio.
Na ordem de prisão, o juiz Vallisney de Souza Oliveira afirma que o ex-ministro tentava obstruir as investigações da Operação Cui Bono, que apura desvios na Caixa Econômica Federal. Ele atuava para evitar uma delação do doleiro Lúcio Funaro, que o apelidou de "boca de jacaré" por causa da gula para fechar negócios.

Funaro afirmou à polícia que Geddel mordeu R$ 20 milhões em propinas da JBS. Parte do dinheiro teria ajudado a silenciar outro faminto, o ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba. A história combina com o relato de Joesley Batista e deve reforçar uma nova denúncia contra Temer por obstrução da Justiça.


O Planalto teme uma delação do ex-ministro desde janeiro, quando a PF fez buscas na sua casa. Recolhido à jaula, o jacaré terá mais motivos para afiar os dentes. 

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