sábado, 8 de julho de 2017

Desalinhamento com Fazenda e BC é 'zero', diz presidente do BNDES

Rafael Andrade/Folhapress
BNDES deixou de emprestar R$ 25 bilhões em 2016 em infraestrutura
Dois diretores do BNDES pediram demissão no dia 7 de julho por divergências com presidente do banco
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"O desalinhamento com a equipe econômica é zero", disse o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, ao comentar o pedido de demissão dos dois diretores do banco.

Os executivos apontaram como motivo de sua saída divergências com Rabello sobre a TLP, nova taxa de juros para os empréstimos do BNDES, que foi forjada com a bênção da equipe econômica e do BC.

Segundo Rabello, é "um fato, uma questão aritmética" que a nova taxa oscila mais do que a atual TJLP, o que é um problema para investidores de longo prazo.
"Que precisa ser corrigido, precisa, que precisamos convergir taxas, sim. Tenho desalinhamento zero com meus colegas da equipe econômica. Mas como realiza essa convergência... pera lá, acabei de chegar, será que eu posso dizer uma coisinha?"

O argumento de Rabello é que o aumento dos repasses do Tesouro nos últimos anos ao banco, para bancar taxas de juros mais baixas a empresas, distorceu a análise do peso dos subsídios ao BNDES.

"Essa TJLP cumpriu um papel muito importante e razoavelmente estável durante anos a fio. Nos últimos dois, três anos, em razão de um programa específico chamado PSI, verificou-se uma maior intensidade no fomento [do Tesouro] e que já não apresenta o mesmo comportamento mais recentemente."
Mudanças na taxa de juros do BNDES
Rabello disse que sempre foi crítico do aumento do crédito subsidiado. "Por que não abrimos esse debate sobre o crédito agrícola?", sugere. Para economistas ouvidos pela Folha, o governo demonstra, com as críticas de Rabello de Castro à TLP, estar mais preocupado em atender a demanda de grupos específicos e se segurar no poder em um momento de crise política mais aguda.

"Até que ponto o governo está realmente comprometido com sua agenda de reformas?", questiona Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro e hoje no Banco Safra. Ele diz que a sintonia entre a política econômica da Fazenda e a direção do BNDES parece ter sido quebrada.

Sergio Lazzarini, do Insper, diz que é o esforço de arrumar as contas públicas que eleva a previsibilidade da economia para os agentes econômicos, a partir do momento em que dá espaço para uma taxa de juro mais baixa e, portanto, uma TLP menor.

O curioso, diz Armando Castelar, do Ibre da FGV, é que mesmo a nova taxa de juros não eliminaria totalmente subsídios, já que seria próxima da Selic, taxa muito distante daquelas cobradas por pessoas físicas e empresas.

Nota dissonante, José Roberto Afonso, também da FGV, diz que financiamentos de longo prazo concedidos para investir em infraestrutura não deveriam estar vinculados à dívida pública como referência a taxa. Como tal, diz ele, passariam a estar sujeitos às mudanças de humor e de clima político, oscilando demais em crises. "Mas é preciso muito cuidado para não ir de um para outro extremo e supor que qualquer funding de origem estatal seja subsidiado."
Armando Paiva/Agif/Folhapress
Cerimônia de posse do novo presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, nesta quinta-feira (1º) de junho, na sede do BNDES
Paulo Rabello de Castro durante cerimônica de posse como presidente do BNDES

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